Paulo Figueiredo
Impressionam as declarações do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, divulgadas na edição de domingo passado do jornal O Estado de São Paulo. Chamam a atenção, não pelas inconveniências ditas, perdoáveis, consideradas as limitações do autor, mas pelas verdades frontais e instigantes que encerram.
Em reunião reservada, quebrou o pau da bandeira. Talvez esperasse que suas acusações e críticas jamais chegassem ao público, fruto de rancores e feridas não cicatrizadas. Não custa lembrar que Lupi foi faxinado do Ministério do Trabalho por Dilma, mesmo após jurar amor eterno à presidente, de forma inusitada, em declaração transmitida pela televisão para todo o país. O PDT manteve o ministério com um “longa manus” de seu dirigente maior, mas as chagas permaneceram abertas. Agora explodem, com palavras duras, oriundas de um partido que integra o poder, aliado desde os tempos da candidatura de Leonel Brizola a vice de Lula, um passo dado em falso, cujo preço é pago até hoje.
Lupi começa com os escândalos de corrupção na Petrobras. É direto, manuseia o punhal e enfia fundo, sem dó nem piedade. Diz que os petistas roubaram como nunca e que o partido acabou, na mesma linha dos ataques virulentos desferidos pela senadora Marta Suplicy, petista histórica e em vias de abandonar a legenda. Veja-se, sem tirar nem por, o que diz o pedetista: “O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobras. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. Exageraram. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”. Em seguida, denuncia o Bolsa Família, que não retira seus beneficiários da penúria extrema, embora tenha nascido com tal propósito, ao advertir que “o programa tem que ser instrumento para tirar da miséria, não para manter na miséria”. Criou-se, segundo o próprio, uma dependência, em cima da qual muita “gente não quer trabalhar para manter o Bolsa Família”.
Prossegue, ao abordar a ocupação do poder, e condena a voracidade com que se discute a partilha de espaços no governo. Ao falar de “nacos de poder” concedido aos partícipes do butim, insatisfeito com o tratamento dispensado a seu partido, vai sem rodeios ao ponto. Diz que não quer “um pedaço de chocolate para brincar como criança que adoça a boca”, mas pretende e exige “ser sócio da fábrica”, ajudando “a fazer o chocolate”.
No mais, condena a votação que os eleitores conferiram ao jogador Romário (eleito senador pelo Rio) e ao palhaço Tiririca (reeleito deputado federal por São Paulo), consagrados pelas urnas, e adverte sobre a possibilidade de seu partido levar cartão vermelho no pleito de 2016 e seguintes, caso não reveja sua posições e alianças políticas. Arremata dizendo que “não que ser um rato, que foge do porão do navio quando entra a primeira água, mas também não quer ser o comandante do Titanic, que ficou no barco até ele afundar”.
Estranha-se é o que se pode ler nas entrelinhas ou até nas linhas. Roubar é admissível, contanto que não haja nenhum exagero? Será possível estabelecer distinção entre quem rouba um tostão ou um milhão? Ou o que significa ser sócio da fábrica de chocolates? Pretende-se participar nos lucros ilegais e espúrios da indústria? É incrível, lembrando Cícero, ó tempos, ó costumes, uma tristeza.
paulofigueiredo@uol.com.br