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  Pesquisa da Uerj avalia situação da rede de saúde municipal

Data: 29/12/2019

 

Pesquisa da Uerj avalia situação da rede de saúde municipal

Levantamento feito pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (Cepesc) da UERJ fez um diagnóstico da rede, apontando problemas e apresentando soluções. A pesquisa foi realizada entre agosto de 2018 e setembro deste ano, com 501 usuários entrevistados.

JANAINA DO CARMO - Redação Tribuna de Petrópolis


Um levantamento elaborado pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (Cepesc) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) mostra que, em Petrópolis, o tempo de permanência nos leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) é mais do que o dobro da média estadual. Na cidade, o paciente fica em torno de 19 dias internado, enquanto, no Estado, esse tempo é de oito dias.

“Esse é um problema antigo fruto da herança do município do período em que se tratava de tuberculose, através principalmente de internações hospitalares. Petrópolis tem dois hospitais, em Corrêas, com esse perfil, contando com leitos de longa permanência que fazem com que essa taxa seja ainda maior. Boa parte desses pacientes poderia ser tratada em casa, por meio do Serviço de Atendimento Domiciliar o que evitaria ficar tanto tempo dentro de um hospital. O gasto é menor”, disse o professor e presidente do Cepesc, Paulo Henrique de Almeida Rodrigues.

O longo período de internação nos leitos do SUS e a demora para a realização de procedimentos cirúrgicos, principalmente os ortopédicos foram apontados pelo professor como principais problemas da rede pública na cidade. Segundo Paulo Henrique, o tempo de espera por uma cirurgia ortopédica pode chegar a dois meses.

“A maioria desses pacientes é formada por idosos e um longo tempo de espera pelo procedimento agrava o estado de saúde. Temos conhecimento de pessoas que morreram na fila aguardando pela cirurgia. A fratura de fêmur deve ser tratada como emergência e ser realizada em 48 horas, mas os pacientes ficam dias, até meses aguardando”, disse o professor.

O estudo do Cepesc foi apresentado na Conferência Extraordinária de Saúde, realizada no dia 14, na Universidade Católica de Petrópolis (UPC), e apontou propostas para reduzir o tempo de espera pela cirurgia ortopédica. Mas, segundo Paulo Henrique, os projetos não foram aprovados.

“Fizemos um diagnóstico da rede, apontando os problemas e apresentando soluções. Algumas propostas foram aceitas e outras não. Essa questão das cirurgias ortopédicas é um ponto grave e, infelizmente, as ideias apresentadas não foram aceitas”, ressaltou Paulo.

“As propostas do relatório, apresentadas na Conferência Extraordinária de Saúde foram colocadas em votação e os delegados votaram, aprovando a maioria e rejeitando algumas” explicou o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Rogerio Lima Tosta, lembrando que, como as propostas fazem parte do relatório, aquelas que não foram aprovadas podem voltar a ser discutida pelo Conselho, sendo que o primeiro passo é iniciar a implementação das aprovadas, após apresentação do relatório final da conferência, como a divisão do município em dois distritos sanitários e em cada um uma policlínica.

A proposta principal para reduzir o tempo de espera é implantar, no Hospital Alcides Carneiro (HAC), cirurgias ortopédicas eletivas. Atualmente, todos os procedimentos deste tipo são feitos no Hospital Santa Teresa (HST) por meio de um convênio com a Prefeitura. Para o professor Paulo Henrique, o HAC tem estrutura para atender essa demanda e aliviaria a fila de espera.

“O Alcides Carneiro tem um centro cirúrgico, só é preciso ampliar. A proposta era deixar o Santa Teresa apenas com os procedimentos de urgência. Hoje, quem está na fila aguardando pela cirurgia tem que aguardar vaga no centro cirúrgico do HST que é ocupado sempre que tem um acidente de trânsito e as vítimas precisam de atendimento de urgência”, disse o professor.

Outra proposta seria a criação de centro cirúrgico com duas salas no Hospital Municipal Nelson de Sá Earp (HMNSE). A unidade atende as vítimas de trauma menos grave e conta também com atendimento ambulatorial de ortopedia.

“O Nelson de Sá Earp tem potencial para isso, existe estrutura para fazer essas salas”, comentou Paulo Henrique.


Melhorias para a Rede de Atenção Básica

Propostas que possam melhorar a Rede de Atenção Básica também fazem parte do levantamento do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (Cepesc) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Segundo o professor e presidente do Cepesc, Paulo Henrique de Almeida Rodrigues investir na atenção primária e secundária reduz custos e otimiza a rede.

“A cobertura da Estratégia de Saúde da Família em Petrópolis é insuficiente, 40% da população não têm cobertura. Ampliar essa rede de forma racional é essencial para uma rede mais eficiente. Além disso, a cidade tem problemas também na rede secundária. Os pacientes se deslocam de um ponto ao outro para fazer exames, ir às consultas. É preciso otimizar a rede e facilitar o acesso das pessoas aos serviços de saúde”, ressaltou o professor.

Entre as propostas, está a criação de duas policlínicas nos dois principais pontos da cidade: um em Itaipava (onde atualmente funciona a UBS, próximo ao terminal) e outro no Centro (no prédio do Centro de Saúde da Rua Santos Dumont). A implantação dessas unidades foi aprovada na Conferência Extraordinária de Saúde realizada no dia 14 de dezembro na Universidade Católica de Petrópolis (UPC). Segundo o professor, as duas policlínicas concentrariam atendimentos com especialistas e exames laboratoriais e de imagens.

“O objetivo é reduzir o tempo de deslocamento dos pacientes e que ele possa fazer tudo em um único lugar. Essas duas unidades ficam em pontos estratégicos, próximos a terminais rodoviários garantindo um acesso melhor dos pacientes aos serviços”, pontuou Paulo Henrique.

De acordo com o estudo do Cepesc, 23% dos entrevistados relataram dificuldades para ir à consulta. Os pacientes apontaram o transporte público precário e locais distantes e de difícil acesso como os principais problemas para ir ao médico. Foram entrevistados 501 usuários, sendo 225 do Centro de Especialidades (ao lado da UPA do Centro), 160 no Ambulatório do Hospital Alcides Carneiro (HAC) e 116 do Ambulatório Escola. Setenta por cento dos entrevistados tinham mais de 60 anos.

A pesquisa do Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva foi realizada entre agosto de 2018 e setembro deste ano e apresentou propostas para serem executadas a curto prazo (final 2020), médio prazo (final de 2025) e longo prazo (final de 2030).


Petrópolis tem poucos leitos cirúrgicos

De acordo com o levantamento elaborado pelo Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Coletiva (Cepesc) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) apenas 6% do total de leitos existentes na cidade são cirúrgicos. São 85 leitos em um total de 1.245. Na cidade de Volta Redonda, por exemplo, são 440 em toda rede pública, desses 112, ou seja, 25,5% são cirúrgicos.

“Transformando o perfil desses hospitais, principalmente os que contam com leitos de longa permanência, vamos conseguir reduzir a fila de espera por procedimentos cirúrgicos. Seria uma forma de utilizar melhor os leitos”, sugeriu o professor e presidente do Cepesc, Paulo Henrique de Almeida Rodrigues.

“Aumentaríamos a quantidade de leitos implantando centros cirúrgicos no Alcides Carneiro e no Nelson de Sá Earp”, ressaltou.


As explicações da Prefeitura

Em nota, a Prefeitura deu as seguintes explicações (ipsis litteris):

“Os dados apresentados foram coletados em 2018 e, desde então, houve mudanças no processo de trabalho, alterando a realidade proveniente de anos anteriores. As duas propostas citadas não passaram, conforme deliberação do conselheiros, composto pela sociedade civil e poder público. Atualmente, o hospital referenciado para a cirurgia ortopédica, o Santa Teresa, tem dado conta da demanda, com menos de 30 dias de espera para cirurgias eletivas. A Secretaria de Saúde mantém uma comissão, que avalia mensalmente se as metas pactuadas, tanto quantitativas, quanto qualitativas estão sendo cumpridas. A Secretaria de Saúde também tem uma equipe de supervisores, realizando o estudo de permanência do tempo dos leitos, que acompanha o período de internação dos leitos próprios e contratados e vem modificando processos de trabalho para que o paciente fique o menor tempo internado, garantindo, porém, a integridade da saúde desse paciente. Vale lembrar que o município possui muitos leitos de longa permanência: são mais de 200, aumentando consideravelmente a média de tempo de internação. Sobre a atenção básica, a Secretaria de Saúde recompôs todas as unidades de atenção básica, bem como as equipes para atendimento. Também entregou os insumos para atendimento da população - cerca de 90% dos insumos médico hospitalares, quanto os medicamentos já foram entregues às unidades. O atendimento também foi estendido em diversos postos, com atendimento entre 7h e 20h. A Secretaria de Saúde também trabalha para o crescimento e expansão dos serviços na rede de saúde. Um investimento histórico de mais de R$ 20 milhões vai garantir a maior reforma do Hospital Alcides Carneiro, por exemplo. São R$ 13 milhões em obras e mais R$ 7 milhões em equipamentos. Com a reforma, o espaço vai ganhar novas salas de cirurgia, um Centro Obstétrico reformulado, mais vagas de UTI Neonatal e Adulto, maternidade com mais de 20 leitos e quatro salas de parto e banco de leite. Só em 2019, o investimento da prefeitura atinge a R$ 384 milhões – equivalente a 34,8% do orçamento municipal. São cerca de 220 mil pessoas atendimentos e 1,3 milhão de atendimentos por ano em toda a rede. Além disso, Itaipava está prestes a receber uma Unidade de Saúde, a UPA Itaipava, que vai funcionar 24 horas – um investimento de R$ 2,7 milhões, que vai beneficiar mais de 90 mil pessoas na região. O Hospital Nelson de Sá Earp foi outra unidade contemplada com melhorias, em um investimento de R$ 1,4 milhão em equipamentos como densintômetro, tomógrafo, cardioversor, desfibriladores e ultrassons”.




 

 

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