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  Triunfo Participações pede recuperação extrajudicial

Data: 22/07/2017

 

Triunfo Participações pede recuperação extrajudicial
 
Por Fernanda Pires e Victória Mantoan Valor Econômico

SÃO PAULO - A Triunfo Participações e Investimentos (TPI) recorreu à recuperação extrajudicial para reestruturar R$ 2,1 bilhões de dívidas da holding e R$ 700 milhões da controlada Concer. O valor da holding também contabiliza a dívida da subsidiária, uma vez que ela é garantidora do compromisso. O grupo protocolou os dois planos na madrugada deste sábado na Justiça de São Paulo.

Ambos os planos receberam apoio de cerca de 80% dos créditos votantes, bem acima do mínimo de 60% exigido para ser ajuizado e que torna obrigatória a adesão dos demais 20%. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), maior credor, se sujeita aos planos, mas não pôde votar por ser parte relacionada – o braço de participações BNDESPar é acionista da TPI.

Ao todo, são quase 20 credores e o endividamento bruto era de R$ 3,8 bilhões no fim de março.

O restante das obrigações, segundo o presidente da empresa, Carlo Bottarelli, não precisava ser renegociado, pois há ativos ‘project finance’ — modelo em que a engenharia financeira é sustentada pelo fluxo de caixa do empreendimento – e uma parcela da dívida está sendo endereçada via venda
de ativos.

Com a ação combinada dessas medidas, a empresa busca melhorar a estrutura de capital e voltar à solvência, após deterioração nos últimos meses.

“O caminho mais simples é a recuperação judicial, só que, além de deixar uma marca, implica romper relações com fornecedores, uma coisa muito mais traumática. E entendíamos que não precisava fazer isso”, afirma Bottarelli. “Vamos sair muito melhor desse processo porque estancamos toda essa confusão.”

Propostas

O plano da holding traz duas opções para todos os credores. “Há muitos credores financeiros com horizontes de tempos diferentes e com expectativas distintas, fizemos uma proposta que conseguiu engajar os dois grupos”, diz André Bucione, diretor-executivo do Alvarez & Marsal, escritório contratado em abril para colocar o plano de pé.

A proposta “A” prevê quatro anos de carência de juros e principal e posterior quitação em quatro anos, sem “haircut” (deságio da dívida). A partir do quinto ano, os credores recebem 100% do principal, 100% do indexador, e 100% do spread. É uma opção que atende as expectativas dos credores com longo prazo, tradicionais de infraestrutura.

A alternativa “B” atende mais o perfil de credores com horizonte de curto prazo, como bancos médios de nicho que emprestaram dinheiro para a companhia fazer uma ponte até acessar um capital de longo prazo. A Triunfo vai disponibilizar um montante de dinheiro para quitar créditos à vista. Vai ser feito um leilão reverso, conhecido como “leilão holandês”, que determina que quem fizer a oferta com o maior deságio sai primeiro. É um processo competitivo entre os credores que tenham interesse em ir embora da estrutura de capital da empresa.

“Quando o ‘pote de dinheiro’ acabar, quem não tiver sido atendido continua na estrutura de capital conforme a proposta ‘A’”, explica Bucione. O montante foi dimensionado entre R$ 50 milhões e R$ 85 milhões, podendo ter suplementação - condicionada a um deságio mínimo de 20% - de mais R$ 25 milhões, alcançando assim R$ 110 milhões.

No caso da Concer, o pagamento será feito com o fluxo de caixa da concessão, que tem vencimento em 2021.

Os R$ 2,1 bilhões que serão reestruturados abrangem dívidas de vários projetos das concessionárias – sobretudo de rodovias e no aeroporto - em que a holding entra como avalista ou garantidora. Com a recuperação extrajudicial, a companhia blinda o dinheiro da venda da Portonave, cuja fatia de 50% foi recentemente alienada por R$ 1,3 bilhão.

O BNDES tem duas execuções contra as controladas Concer, concessionária da BR-040 entre o Rio de Janeiro e Juiz de Fora (MG), e Concebra, entre Brasília e Betim (MG), em virtude do não pagamento de empréstimos-ponte no valor de R$ 290 milhões e R$ 760 milhões, respectivamente. Por isso, existia uma preocupação de que o banco pudesse se apropriar desse dinheiro. Mas o início do processo de recuperação extrajudicial suspende essas execuções e a sua conclusão com a homologação, esperada para 45 dias, elimina essas ações.

O recurso da venda da Portonave deve chegar em meados de setembro e tem destino certo. Quitará o empréstimo “tóxico” contraído com o fundo americano Farallon em novembro — a 14% de juros ao ano mais variação cambial, e pelo qual deu ações da Portonave em garantia. Convertido em real, o valor a ser pago ao fundo deve ficar em torno de R$ 750 milhões. O restante reforçará o caixa da companhia.

Crise

A Triunfo arrematou concessões de rodovias e aeroporto nos últimos anos, quando a economia brasileira viveu uma euforia. As expectativas de tráfego nas rodovias – segmento que representa seu principal negócio – eram altas e, consequentemente, também a previsão de receita. Mas isso não se confirmou com a severa crise financeira.

Os contratos tinham pesadas exigências de investimentos nos primeiros anos de concessão e o financiamento de longo prazo do BNDES, com cuja previsão a empresa disputou a concessão da controlada Concebra, não saiu. Além disso, problemas regulatórios pioraram o cenário, como no caso da Concer, em que a companhia avalia ter direito a extensão de prazo se não receber em dinheiro como compensação por ter feito novas obras.

Os custos de funding levaram a uma situação de excesso de alavancagem, estrutura de capital inadequada, e, finalmente, insolvência. A empresa já traçava o programa de venda de ativos, considerando a Concebra, quando o BNDES executou a dívida da concessionária. Tornou-se, então, imperioso fechar um acordo com os credores, missão que coube ao Alvarez & Marsal.

Segundo Bottarelli, as dívidas do projeto são pagas pela operação. “Temos plena certeza de que Concer paga Concer. Se eu conseguir pagar a conta na concessionária, isso não sobe para mim holding. Estou simplesmente me ´escudando´”, afirma. “Não venha buscar o meu dinheiro, porque a concessionária vai pagar.”

Venda

Em relação ao programa de venda de ativos, além da Portonave, a empresa havia listado para alienação de sua fatia na concessionária do aeroporto de Viracopos (SP); a participação em Tijoá, responsável pela operação da hidrelétrica de Três Irmãos; e o terreno que detém às margens do Porto de Santos (SP).

Viracopos, contudo, se tornou uma incógnita no curto prazo. O ativo sofre dificuldades regulatórias e, atualmente, uma alienação é considerada difícil. Além disso, a Triunfo foi pega de surpresa pelo anúncio de recuperação judicial da UTC, sua sócia no negócio. “É uma situação complicada, estamos avaliando ainda”, diz o executivo. Como se não bastasse, sem dinheiro, os sócios deixaram de depositar a outorga referente ao ano de 2016 e a Anac, agência reguladora, executou o seguro garantia do aeroporto.

O terreno em Santos, avaliado em R$ 300 milhões, saiu da lista de vendas porque a companhia entendeu que ele tem um valor superior do que conseguiria como um ativo eminentemente imobiliário. Resta apenas a concessionária de energia Tijoá, que ainda receberá propostas vinculantes.

Homologado o plano extrajudicial, a Triunfo será uma empresa mais enxuta e com dinheiro em caixa. “Com tranquilidade para resolver os problemas regulatórios em Concer e Concebra”, diz o executivo, e tocando suas três outras concessões rodoviárias.
 
“Não vamos disputar nada no curto prazo.”



 

 

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