O projeto de reativação da Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, divide as opiniões entre os moradores da Serra Velha da Estrela. Alguns acreditam que a volta do trem é uma forma de resgatar a história do local. Outros afirmam que, nos dias de hoje, voltar ao que era antes não faz mais sentido. O projeto prevê a reconstrução dos 6 quilômetros da linha férrea, que compreende o trecho entre a Serra da Estrela, em Petrópolis e Vila Inhomirim, em Magé. A finalidade da reativação é oferecer uma alternativa para quem faz o trajeto Rio -Petrópolis diariamente. O investimento previsto para que a reativação seja realizada é de R$ 70 milhões, incluindo o processo de desapropriação de, cerca de 300 famílias, que ocupam o trecho onde passa a ferrovia.
O aposentado Célio Roberto Gastaldo, de 67 anos, nasceu na região da Serra Velha e reside na Vila Operária. Ele trabalhou na Fábrica Cometa e guarda boas recordações da época em que andava diariamente no trem. “Lembro que ele só passava em dois horários. Um de manhã e outro a noite. Se perdesse, tinha que fazer o trajeto a pé (vide nota 1). Andar na Leopoldina era bom, assim como todas as coisas do passado. Não que a tecnologia de hoje não seja boa, mas era diferente”, afirmou. Ele esteve presente na última semana do trem e também na primeira do ônibus.
Apesar de considerar positivo para o turismo, ele não acredita que o trem irá de fato voltar. “O projeto é muito caro”, argumentou ele, que participou de todos os eventos e seminários que discutiram a reativação da linha férrea.
Já o garagista Vilmar Izidoro de Andrade, de 51 anos, mora na região há 32 anos e vive com a esposa, a filha de 19 anos e a neta de 1 ano e 6 meses. Ele disse que já foi procurado pelo IPHAN, que o orientou a não construir mais no local por causa do projeto. “Cheguei até a ser levado pela Polícia Federal porque estava construindo, teve julgamento, mas acabei sendo absolvido”, contou.
Vilmar afirmou ainda que, embora não acredite que a reativação seja de fato concretizada, o sentimento de medo não deixa de existir. “Nós que moramos aqui não sabemos se vamos ser indenizados pelo que construímos”, afirmou.
Aos 88 anos, João de Almeida, recorda do dia em que o eixo do trem quebrou, ocasionando a morte do irmão dele Manoel Roque Batista de Almeida. Os dois também trabalhavam na Fábrica Cometa. “Na ocasião, morreram dois funcionários e o meu irmão que, naquele dia, tinha acabado de sair do hospital e estava vindo para casa”, rememorou.
Quem também relembrou episódios daquela época foi Homero Venâncio Lopes, de 67 anos. “Quando tinha uns 14, 15 anos, entrava com meus amigos no trem, sem comprar passagem e várias vezes o condutor nos achava dentro do vagão e nos mandava descer e tínhamos que ir a pé”, disse. Ele também acha que a reativação dele seria um resgate da história.
Já o vigia David Bruno Rodrigues, de 28 anos, também não acredita no projeto. “Desde a época da minha mãe que falavam isso e nunca saiu do papel”, finalizou.
A estrada de Ferro foi inaugurada no dia 19 de fevereiro de 1883 e esteve ativa por mais de 80 anos. Ela partia da Estação Guia de Pacobaíba e ia até o município de Magé. A viagem inaugural contou a presença do Imperador D. Pedro II. Ela foi extinta em 1964, quando o ramal ferroviário foi considerado antieconômico.
Prefeitura de Petrópolis apresentou projeto de reativação ao Ministério das Cidades
A prefeitura de Petrópolis informou, por meio da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, que o prefeito Rubens Bomtempo produziu o projeto básico com o estudo de viabilidade da reativação da Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, em convênio com a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF). “O projeto, aperfeiçoado nos anos seguintes pelo GT-Trem, foi apresentado ao Ministério das Cidades, no início de 2013 pela prefeitura, que respondeu informando que não havia recursos no PAC 2 – Mobilidade Urbana para as intervenções (vide nota 2). A secretaria esclarece que, na próxima edição do PAC – Mobilidade Urbana, encaminhará novamente o projeto para o Ministério das Cidades”, afirmou.
Já a assessoria de imprensa da prefeitura de Magé, informou que o Grupo de Trabalho do município está com um projeto inicial de revitalização, com o objetivo de integrar a linha da Estrada de Ferro Mauá ao trecho administrado pela SuperVia. A assessoria explicou que este trecho, tem início na Estação Guia de Pacobaíba e vai até o bairro Bongaba, no sexto distrito de Vilha Inhomirim. “O projeto está na fase final do estudo topográfico dessa área. Além disso, uma empresa licitada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) está elaborando inventário de todos os bens da Estrada de Ferro Mauá, que estão sob tutela do Instituto. A prefeitura, por meio da Fundação Educacional e Cultural de Magé que compartilha a gestão junto com o Iphan, também está inventariando o patrimônio cultural ligado a Estrada de Ferro Mauá”, informou por meio de nota.
Notas (observações do Pastori):
(1) O Sr. Celio Roberto deve ter começado a trabalhar quando tinha uns 17 anos, por volta de 1964, último ano que a ferrovia operou. Antes disso, a oferta diária de viagens era de oito viagens de ida e sete de volta, conforme quadro de horário da época. A viagem durava 1h:50, de Petrópolis até Praia Formosa (ao lado da Rodoviária Novo Rio), tracionado por obsoletas Marias-fumaça:
(2) Confesso que fiquei bastante surpreso com a resposta do prefeito de que não havia verbas no PAC-2. Cansamos de cobrar explicações sobre como andava a condução do projeto junto ao Ministério das Cidades, mas nunca obtivemos respostas. Por esse motivo o GT-Trem, Petrópolis se desvinculou do Prefeitura/COMTUR-Conselho Municipal de Turismo (veja detalhes na matéria seguinte). Por outro lado, o GT-Trem Magé ainda persiste e segue firme com reuniões regulares.