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  QUO VADIS, COVID? - Philippe Guédon

Data: 05/04/2020

 

QUO VADIS, COVID?

Philippe Guédon *

 

            Ninguém esperava o aparecimento do COVID na cidade chinesa de Wuhan. E muito menos pensamos todos no decorrer das primeiras semanas de atividade dos víri (nominativo plural de vírus, se ainda recordo a segunda declinação do Latim), que a era dos jatos alastraria a contaminação pelos cinco continentes em questão de dias ou mesmo horas. Nestes primeiros dias de abril, já registramos um milhão e cem mil infectados e lamentamos cinqüenta e oito mil mortes, conscientes que os registros só podem levar em conta os casos confirmados pelos testes disponíveis, o que nos limita a patamar muito aquém da realidade. Os primeiros casos ocorridos em Wuhan e negados pelas autoridades chinesas (como teria feito a grande maioria dos governos de outros países) transformaram-se em pandemia à volta do globo. Nenhuma atividade humana deixou de ser afetada pelo COVID-19; algumas poucas tiveram o seu ritmo loucamente acelerado (Saúde Pública, por exemplo), a imensa maioria viu-o reduzido quando não completamente interrompido como rotas aéreas internacionais, turismo e tudo o mais que foi considerado não-essencial: serviços de saúde, insumos para o combate ao COVID, alimentação, combustíveis e afins.

Com o pequeno recuo que já nos é permitido hoje, devemos reconhecer que o Brasil está entre os países que mais rapidamente passaram do ceticismo geral à ação. Medidas amplas e corajosas foram concebidas, propostas e postas em prática nas áreas da Saúde e da Economia, e contaram com o apoio de iniciativas complementares de áreas como a Infraestrutura, a Ciência e Tecnologia, as Relações Internacionais, a Defesa e quase todas as demais que compõem o Ministério brasileiro. O Poder Executivo arcou com a parcela maior dos debates e estudos, como seria de esperar-se em crises de igual porte. Lamentável ter que reconhecer e registrar que as paixões partidárias continuaram rebeldes ao sentimento de unão nacional; as análises da situação e das medidas que provocava em resposta continuaram contaminadas pela síndrome do “nós e eles” que tanto prejuízo já causou. Ver a totalidade dos colunistas de um jornal, de um dia para outro, adotarem postura crítica sobre toda e qualquer ação do Executivo ou semeando a discórdia entre áreas e dirigentes de uma mesma Administração, evidenciou incapacidade de muitos em se alçarem à altura exigida pelo momento.

Cito um exemplo: qualquer equipe ministerial é reflexo do líder que a montou e da visão das correntes que a suportam. Pode-se discordar do presidente por mil razões diversas, mas negar a sua competência na montagem do melhor Ministério das últimas décadas, é simples confissão de miopia política. Quem foi capaz de reunir Sérgio Moro, Paulo Guedes, Luiz Henrique Mandetta, o general Heleno e tantos mais num conjunto de padrão ético e técnico tão superior aos anteriores, deve ter este mérito aplaudido. Como se pode louvar as partes e negar as virtudes do conjunto e de seu organizador e coordenador?

O contraste entre as posturas dos Poderes é visível para o que Brasília costuma chamar de “pessoas comuns”. O Poder Executivo, com suas limitações, seus erros, suas hesitações, afronta o grande e inesperado inimigo e, em questão de dias, começa a produzir respostas, a propor medidas, a jorrar idéias inclusive divergentes. Só erra quem faz. No Judiciário e no Legislativo, observou-se a continuidade do ritmo de trabalho, a adoção de medidas de auto-proteção contra a nova ameaça, a manutenção ou redução do ritmo de trabalho (por exemplo, onde encalhou a discussão vital sobre os candidatos avulsos?). E isto a nível federal, estadual, distrital e municipal.

Quais as Câmaras municipais que podem apresentar, hoje, algum acervo de medidas propostas para atravessar o período de crise? Todos sabem que os Municípios não têm planejamento de médio nem de longo prazo – responsabilidade da Constituinte e da instância federal, acolhida passivamente pelas Câmaras – e que os seus Legislativos são simples feudos partidários de alto custo e baixíssimo rendimento. Nem nesta hora foram capazes, como atitude-padrão, de subirem um degrau que fosse na escala ética da representação popular. Eram quase-nulidades, assim continuaram sendo. O povo que enfrente a falta de atividades e empregos, o confinamento, a ameaça da doença, que se vire. O Poder Legislativo de cada Município precisa manter cada um dos infinitos privilégios nos quais se refestela.

Honra ao mérito. Aplaudo os ministros que se revelam competentes e corajosos, e não posso, em conseqüência, deixar de aplaudir quem os nomeou, reuniu e viabiliza todos os dias a sua atuação. Mas não posso deixar de lembrar que Petrópolis, por mero exemplo, continua sem planejamento de longo nem de médio prazo, não possui dados corretamente consolidados, ignora os seus efetivos, a sua dívida, o seu patrimônio imobiliário. Continuamos mantendo uma Câmara perdulária, sem propósitos nem ambições de trabalho, preocupada somente com a meta do Triplo G: grana, grana e grana. Os Legislativos municipais continuam isentos de controles quanto ao seu processo legislativo, são meras emanações de partidos políticos em geral corruptos e ineptos. Não entendo como foi possível ao TCE não perceber que Petrópolis não consolidava os dados das Sete Irmãs que compõem a Administração local; desconheço maior atestado de missão não cumprida, a exigir imediatas providências da ALERJ, que sabemos não serão adotadas.

Aplaudo, pois, a ação de nosso atual Ministério. E aplaudo, por questão de lógica primária, a sua Liderança maior quanto ao feixe de medidas e ações que adotou no combate ao COVID. As minhas simpatias doutrinárias e ideológicas correm em outra direção, mas o apedrejamento a que se assiste hoje me impede de calar o que acredito deva ser dito.

 

 

* Coordenador da Frente Pró Petrópolis - FPP




 

 

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