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  Triste, belo, mesquinho e chato - Denilson Cardoso de Araujo

Data: 12/10/2019

 

Triste, belo, mesquinho e chato

Denilson Cardoso de Araújo - Escritor


É triste. A floresta nas frestas da quase ruína do antes belíssimo edifício dos Correios. Pedintes pelas ruas. A Paulo Barbosa às vezes como acampamento de refugiados. A Rodoviária velha, abrigão informal. Assaltos à luz do dia no Centro Histórico. Drogas nas praças. Sexo em público. Sequestro relâmpago em Itaipava. Buracos nas pistas. Monumentos pichados. Som alto em shows, parques e praças, e nos carros que passam. Há quem não mais frequente cachoeiras por medo de assaltos. Calçadas estreitas espremem camelôs, transeuntes, pedintes. Migração feroz, de quem foge de tormentos cariocas, maiores, dá explosão de prédios sem conveniente estudo de impacto. Excesso de festas com problemas constantes e receitas fugazes. Turismo bate-volta, que enche as ruas e pouco agrega economicamente. Saudade da Casa Itararé, do Copacabana, do Margarida’s, do Paulista, da Cutelaria. Relógio de flores escasso de flora. Belas estátuas antigas furtadas. Novas estátuas de gosto duvidoso instaladas. Polo gastronômico em crise. Este rol de lamentos ouvi esta semana. São anos de incompetência aliados à crise econômica persistente e ao desemprego cruel, dando preocupação e tristeza.

É belo. Ipês amarelos. Cerejeiras estonteantes. Melhor engenharia de trânsito, dando melhor fluxo de tráfego. Serviço das farmácias do governo municipal melhorando. Charmosas charretes elétricas, podem ser novidade bonita. A cidade segue produzindo poetas e artistas. Sílvio Costa Filho segue o melhor Santos Dumont desde o próprio. Escolas daqui vencem prêmios estaduais. Mulheres do Outubro Rosa preparam seu vigoroso evento. E para paz das nossas tradições ancestrais, a gente continua achando belas as luzes douradas vestidas de ruço, dizendo que vai na “Vinida”, e apreciando o inigualável bolinho de carne com ovo da Galeria do Arcádia.

É mesquinho. Prêmio Camões, mais alta honraria literária em língua portuguesa, resulta de convênio de órgãos culturais dos governos de Brasil e Portugal. Neste ano, o júri com representantes de Brasil, Portugal, Angola e Moçambique, escolheu Chico Buarque. Sem perder outra chance de se mostrar pequeno, Bolsonaro quer embarreirar o Prêmio, não assinando o certificado, que precisa das firmas dos Chefes de Estado brasileiro e português. Pirraça medíocre, por ser Chico apoiador do “Lula Livre” e opositor de Bolsonaro. Há bom tempo tenho reservas e discordâncias sobre certos atos e opiniões de Chico, em contraponto à profunda admiração por sua obra. Mas gênios são gênios. São escassos. Quando os temos, devem ser reconhecidos. E os prêmios que justamente ganharam devem ser corretamente entregues. Sem revanchismos. A atitude do Presidente não bloqueia a entrega do Prêmio, o que torna mais ridícula sua atitude. E ainda deu a Chico a chance de retrucar que a falta dessa assinatura é, para ele, adicional honraria.

É chato. Febrinha intermitente pró-Lula. O “injustiçado” quer seguir preso, sem progressão para o semiaberto, senão mofa o bordão “Lula Livre”. Forçação de barra indica um livro de entrevistas do ex-Presidente ao Prêmio Jabuti, como fosse ele o autor. E a nova e frustrada tentativa de emplacar a seu favor um Nobel da Paz sem sentido. É cansativo. E a esquerda acorrentada a isso não cresce, não faz a autocrítica devida, não sai do lugar. Há décadas atrás, criticando internamente o Partido, eu dissera que o culto a Lula ameaçava nos empurrar para um tipo de peronismo. Pois é.

denilsoncdearaujo.blogspot.com.

 




 

 

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