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  TRAGÉDIAS E ELEIÇÕES

Data: 14/12/2015

 

 

TRAGÉDIAS E ELEIÇÕES

Philippe Guédon

 

         O poeta Fernando Pessoa constatou que: “o eleitor não escolhe o que quer; escolhe entre isto e aquilo que lhe dão, o que é diferente”.  O que equivale a dizer-se que o conceito “todo o poder emana do povo” soa bonito, mas é para inglês ver. Todo o poder emana dos partidos, vergonhas nacionais que atribuíram-se o monopólio de indicar candidatos, não praticam a alternância no poder nem a participação em seus estatutos,  e dispõem das mega-verbas do Fundo Partidário para calar a boca de quem ousa protestar na Justiça pagando de seu bolso as custas, viagens, advogados e eventuais condenações.  Alguns são mais iguais do que os outros, perante a Lei eleitoral.

         Neste Ano Novo de 2016, a tragédia do Cuiabá completa 5 anos. Pegaria bem um novo sobrevôo presidencial (ou de vereadores) a ver de cima a recuperação do Vale, o reflorestamento, os conjuntos habitacionais arborizados, as obras bem executadas. Por que será que não acredito na probabilidade desse Sobrevôo da Verdade?

De quebra, vamos eleger um prefeito e quinze vereadores, escolhidos dentre quem queiram propor os partidos. Os quais, com raras exceções, nunca realizaram uma única reunião em quatro anos, aberta aos eleitores, sobre plano diretor, LUPOS, códigos, orçamento, regimento interno da Câmara, planejamento, estrutura administrativa, efetivos. Para o que presta, não serviram para nada; e balanço de partido publicado, alguém já viu? Todos vão nos dar lições de cidadania nas campanhas, e prometer o que quisermos ouvir. Como resultado, vamos conhecer mais um tanto do mesmo cardápio, tipo miopia previdenciária e gosto pelo tamanho excessivo das máquinas públicas. A ninguém será perguntado se prefere aplicar 27,5 milhões por ano no custeio da Câmara ou no subsídio das passagens de ônibus mais baratas.

Não prego o anarquismo, embora não pudesse ser muito pior que o horror que vigora no país, filho de normas constitucionais produzidas por partidos e para partidos, com o povo caladão, como convém. Sou, sim, favorável a uma completa revisão de nossos costumes, encimada por planejamento participativo e a desembocar em sistema orçamentário para valer. Acredito em Governo limitado aos seus papéis essenciais, em Câmara que não traduza a vereança pelos quinze melhores empregos da cidade, na qual não campeiem as vaidades e que tenha sempre presente que está a serviço do povo e não dos partidos que indicaram os eleitos. Acredito, e muito, em candidatos sem-partido. Acredito na participação livre e respeitada, sem beija mão nem concordância obrigatória.  Causam-me repulsa os sobrevôos e as promessas pós-tragédias, com coletes e capacetes, filmes e fotos, e o “ciao e bênção” que se segue. Acredito em partidos expostos à permanente competição com os candidatos avulsos.

Não acredito em programa de Governo que ignore os planos diretores. Choro ao ver varrida do cenário a participação, como aconteceu com o INK.

Desejo ao nosso povo que saiba construir um Feliz Ano Novo, retomando o protagonismo que a Constituição redigida por partidos não ousou escamotear por completo.  O que o povo não fizer pelo bem-comum, ninguém mais o fará.

 

 




 

 

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