Angelo Romero
Escritor
Na primeira vez que vim do Rio a Petrópolis, vim de trem. A cidade de Pedro com seu rico e imponente museu, o Palácio de Cristal, os prédios públicos, o casario num todo, o traçado das principais ruas e Avenidas e seu clima ameno, me encantou. Porém, para provocar meu encantamento, bastaria a deslumbrante paisagem descortinada através da janela do trem. Logo me ocorreram algumas imagens de minha infância, quando passei diversas férias em uma pequena e agradável cidade chamada Conrado Niemayer. O trem sempre foi meu transporte favorito. Nos países de primeiro mundo, o trem, não só por ser um transporte seguro, entre tantas vantagens, oferece a oportunidade ao passageiro de conhecer e se deliciar com a diversidade da fauna e da flora.
Lembro-me, com saudade, de minhas viagens a São Paulo, no trem noturno. Depois de trocar impressões sobre o passeio, impressões estas regadas por alguns drinques no vagão restaurante, recolhia-me à cabine para amar, embalado pelo jogar do trem e, depois, para ter um sono reparador. Amanhecer em São Paulo era o que pouco me interessava. O interessante era o passeio propriamente dito, pois, logo ao desembarcar, já esperava o cair da noite para a viagem de volta. Havia também os executivos que viajavam a trabalho e que, ou por temer uma viagem aérea, ou pelo simples prazer de viajar com conforto e segurança, preferiam o trem. Mas o Brasil é um país sui-generis, retrogrado, pois em alguns aspectos, andamos para trás.
Quando passo pelo suntuoso Hotel Quitandinha, sou levado a fazer uma analogia: Tínhamos o trem, cortando boa parte de nosso território e um dos mais belos cassinos do mundo. E o que aconteceu? Boa parte de nossa linha férrea virou sucata e proibiram o jogo nos cassinos. Sim, porque só não se joga em cassino, não é Caixa Econômica Federal? Será que nós somos suficientemente ricos para dispensar o dinheiro do turista? Para que irá nos adiantar um substancial saldo na balança comercial se este saldo virá advindo do turismo? Enquanto nós ficamos aqui chorando nossa incompetência, os paraguaios, uruguaios e argentinos morrem de rir com a entrada do nosso dinheiro em seus cassinos.
Que no passado, através de uma lei criada e promulgada por “um idiota da objetividade”, como diria Nelson Rodrigues, ou um carola de sacristia, poderíamos entender. O que não se pode é aceitar que a tal lei ainda esteja em vigor. A quem interessa manter proibido o jogo nos cassinos? Será que alguém será capaz de me responde? Será que esse poder advém exclusivamente da Igreja?
Passemos dos cassinos para os trens. Nunca neguei minha admiração por JK, por seu governo iminentemente democrático e empreendedor. Chego mesmo a opinar que foi o maior e melhor presidente que o Brasil já teve. Entretanto, para provar que ninguém é perfeito, ele, JK, para privilegiar a indústria automobilística, principalmente a produção dos famosos caminhões FNM (Fábrica Nacional de Motores), criminosamente, digo eu, exterminou com nossas ferrovias interestaduais. Por duas vezes li no noticiário da imprensa matéria sobre a greve dos caminhoneiros. Não discuto sua legitimidade, mas me preocupo com o possível desabastecimento de gêneros de primeira necessidade, gêneros estes que transportados por trens, o custo seria bem menor. Você, prezado leitor, acredita na volta dos trens e dos cassinos? Ah, como eu gostaria aqui de denunciar os que detêm o poder, ao ponto de vetar as medidas capazes de favorecer nosso povo e o Brasil, de um modo geral. Serão os de hoje os mesmos de ontem? Qual tipo de campanha poderia ser feito para exigir a volta dos trens e dos cassinos, campanha essa, tenho certeza, que a maior parte de nossa população abraçaria? Onde está a nossa imprensa livre? Qual seria sua posição nessas questões? Ah, como eu gostaria de obter todas essas respostas.
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