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  As jabuticabas do Cuiabá

Data: 02/05/2012

  Não contei um por um, nem carecia. Mas éramos quase uma centena, na sexta à noite, no teatro do Shopping Estação, em Itaipava, reunidos para ouvir o Senhor Promotor de Justiça do Estado, Dr. Vinicius Ribeiro, e os membros  da Comissão de Profissionais que elaboraram o “Relatório da Visita Técnica ao Vale do Cuiabá”, reunidos por Luiz Antonio Amaral, presidente de nossa APEA, e contando com o prestígio do CREA do Rio de Janeiro através do Engenheiro Sanitarista Adacto Otoni.
Não sou qualificado para comentar os detalhes técnicos do que ouvimos; quem de direito o fará. O propósito era fornecer ao nosso Ministério Público elementos técnicos de alta qualidade que alicerçassem as iniciativas que reclama toda uma população tratada de modo indigno. Sim, indigno, com falta de dignidade, de fraternidade humana. Quinze meses decorridos desde a tragédia de 12 de janeiro de 2011, e praticamente nada aconteceu. Não temos elenco de ações, cronograma, orçamentos, transparência, casas, coordenação, pontes, indenizações decentes, diagnósticos isentos e de qualidade, entulho retirado, destroços levados para seu destino, não temos nada, coisa nenhuma, bulhufas. Falatório, muito falatório, escanteio, bolas mal passadas de um para outro, respostas do tipo “olha aí no guichê ao lado” quando não no andar de cima ou de baixo, em qualquer lugar menos aqui, ó pá! E não ouse insistir, sou importante, sou bamba, eu que sei!
O mais cordato dos povos cansa. Quem quer crer nas autoridades, cansa. Quem aplaude os primeiros sobrevôos enjoa ao ver que tudo se esgota no sobrevôo. Deve haver quem mande fazer, quem libere verbas, quem estude ações. Mas a máquina, cega e burra, esperta e nem sempre honesta, não produz nada de útil. Só sobrevôos e discursos, explicações, promessas esquecidas na hora e sem demora, conversa fiada. Quem cobra? Quem é o gerente da encrenca, coisa essencial, óbvia, elementar? Os Poderes não sabem, apenas esclarecem que imensas dificuldades surgiram no papelório, que impediu que brilhantes currículos e disponibilidades generosas pudessem resolver um mísero de um único problema para servir de exemplo e semente. Virar a mesa lá dentro, ninguém virou não, em espetáculo de frouxidão que não vale a pena deixar as crianças assistirem.
Pois na sexta feira, uma centena de pessoas, conhecidas ou anônimas, das regiões atingidas ou de outras de Petrópolis, com mandatos ou sem emprego, reuniram-se no Shopping Estação. O local, os móveis, a panóplia das Bandeiras, o parlatório, os microfones e as caixas de som, o data show e a tela, as mesas e as toalhas, os copos d’água, tudo apareceu a custo zero e esforço mil. Computadores na mesa. E, sobretudo, técnicos, pessoas de boa vontade e ciência muita, para falar de seu trabalho oferecido a cidadãos e cidadãs, e estes doando seu tempo e conforto para ouvir, questionar, entender o espírito da coisa, sentir o frêmito da participação que ressurge mais uma vez, como ave fênix. Quem não assistiu, não pode mais ver para crer. Mas saiba que ocorreu em Itaipava, 3º Distrito de Petrópolis, na noite de sexta feira.
Eu diria que foi a noite da virada do Cuiabá. O dia do “Fico!” talvez tenha inspirado a noite do “Basta!”. As Autoridades presentes, nem tantas, até pouquinhas assim, ó, mas de importância inversamente proporcional, captaram a energia que ajudaram – e como – a gerar. Creio que o tema do Cuiabá e seu entorno jamais será o mesmo depois desse papo comunitário, quando o Relatório foi entregue pela Comissão de Profissionais ao Senhor Promotor de Justiça (aliás, que lindo nome: Promotor de Justiça!).
Sim, basta. O povo quer caminhar ao lado de suas autoridades, de todas as suas autoridades. Somos contra ninguém não, só a favor. O que irrita é a maçaneta fechada, o “doutor está em reunião”, o “isso aí, é no guichê ao lado, mas só na quinta à tarde”. O que não se tolera mais é o trabalho mal bolado e pior executado, o previsível  resultado nulo de uma bagunça intolerável gerada por sumidades que nenhum de nós ousa contestar.O que irrita é a pretensão arrogante. Não queremos brigar, nem  ir além de nosso papel. Queremos marchar ombro a ombro, todos irmãos e irmãs. Mas continuar comprando conversa fiada que tanto machuca e tanto ofende, vamos mais não. É a vontade do povo, de quem emana todo o poder (CF, art. 1º parágrafo único).
Velho de desmontar com a mais leve brisa, digo a vocês que adorei a reunião de sexta feira, em Itaipava, no Shopping Estação. Digna dos tempos da Amai Itaipava, lá pelos idos de 1.976, lembram, amigo Eliziér, amigo Glimauro? Lembram, cabecinhas brancas de Itaipava e seus bairros e “adjacências”? Pois os mais belos frutos estão a surgir agora, 36 anos depois... Jabuticabas da melhor qualidade!.




 

 

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