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  O NOVO FEBÊAPÁ - Philippe Guédon

Data: 05/05/2020

 

O NOVO FEBÊAPÁ

Philippe Guédon *

 

            O grande Stanislaw Ponte Preta, criador do inesquecível Festival de Besteiras que Assola o País, permitirá a este modesto idoso escriba confinado o uso de sua sigla, desta vez para identificar o festival de besteiras que assola a pandemia. É prova de admiração pela sagacidade.

Já lá vai longe o dia em que algum conhecido me contou a historieta que repasso, e que me voltou à memória nestes nossos tempos de paúra e de carência de bom-senso. Explicava o professor de Estatística aos seus alunos: “Peguem um cidadão qualquer e coloquem-no deitado numa maca de aço. Coloquem a parte da maca que suporta os pés num forno aceso à setenta graus, e enfiem a parte sobre a qual repousa a cabeça numa geladeira regulada em quatro graus positivos. Decorrida uma hora, a média do corpo de nosso paciente estará em 37ºC, bastante saudável em termos de estatísticas biomédicas, mas o cidadão estará mortinho da silva, meio calcinado e meio gelado. Cuidado, pois, com o bom-senso que deve sempre estar presente nas estatísticas”.

            Nesta época de pandemia, onde ficamos em casa a receber, via mídias, uma enxurrada de dados e ordens, deve ser permitido a um confinado expressar algumas dúvidas que lhe vêm à cabeça.

            Jornalistas e locutores informam todos os dias o somatório dos casos de COVID-19 comprovados e o total de casos que “foram a óbito”. Parecem espantados com o crescimento dos números algo, entretanto, bastante natural quando se somam totais anteriores com novas parcelas. E comparam, com a maior naturalidade, os números relativos à Índia, ao Brasil e à Bélgica, ou outras Nações. Temo que não percebam que estão a comparar alhos com bugalhos; aproximar os números absolutos de doentes em país com mais de 1,3 bilhão de habitantes com outros relativos a populações de duzentos ou onze milhões favorece a apuração de resultados destituídos de qualquer significado. Ou se transformam os números em percentuais relativos à população, ou falamos de laranjas cá e salsichas lá.

Outro aspecto: à nossa querida imprensa, que não pode ser criticada por ser baluarte intocável da democracia, não ocorreu que os números somados ad nauseam sem maiores cuidados, acabam por muito pouco dizer. Se o propósito não é o de apavorar a população, há que se perguntar quantos casos confirmados puderam ser curados e abater estes recuperados dos que haviam sido atingidos pelo mal.

Esclareço o conceito: um dirigente de um país de duzentos milhões de habitantes vem a público e comenta: “Meus Amigos, somos duzentos milhões e, dentro de cem anos, pouquíssimos dentre nós estarão ainda por aqui. Posso, pois, dizer, que em média, a cada ano, dois milhões dentre nós vão ir a óbito”. O povo que ora se assusta com o COVID-19, vai bater queixo e promover um estouro de boiada: dois milhões de cidadãos vão morrer este ano, algo como 160.000 por mês, mais de 5.000 por dia! Com pandemia, sem pandemia, chova ou faça sol. Que horror mais apavorante.

Verdade, vai ser matematicamente por aí. Mas o que precisa ser dito é que nascerão todos os dias outros tantos e mais um pouco, pois a população do dito país tende ao crescimento. É o que acontece hoje, é o que vem acontecendo desde que a humanidade se deu conta que era a humanidade. Morrem muitos, e nascem outros tantos e mais um pouco. É a Lei da Vida.

Sim, importemo-nos com a pandemia, vamos à luta contra os seus devastadores efeitos. Mas peçamos que nos informem os dados todos, não apenas os que podem ser usados para criticar tal ou qual governante, ou assustar a população como se usava de algum bicho de sete cabeças para inspirar temor às crianças. Adotemos, democraticamente, as medidas que se fizerem necessárias. Sem, para tanto, termos que achar que as pessoas viraram todas ingênuas consumidoras dos números que nos anunciam sem que os peneiremos nos filtros de nosso bom-senso.

 

 

* Coordenador da Frente Pró Petrópolis - FPP




 

 

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