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  O ESTADISTA

Data: 13/04/2015

 

 

O ESTADISTA

Philippe Guédon

 

Lá pelas bandas de 1991, a Vereadora Carmen Felicetti defendeu na sua “fala” a imagem do Prefeito Paulo Gratacós como a de um estadista, rara espécie de político capaz de governar para o presente com os olhos postos para o futuro. Quando chegou a sua vez de falar, o Vereador Jorge Barenco ocupou a tribuna falando de sonho que tivera, no qual caminhava entre o Morin e o Centro e esbarrando em mazelas diversas que retratavam imagem menos ufanista da Administração de então. O fugaz episódio me ficou na memória, como exemplo de convivência entre Vereadores e, mais ainda, por me provocar com esta noção de “estadista”.

Espectador do processo ainda por um tempo, entendo que temos lideranças partidárias com vocação para serem estadistas. Mas, em verdade, encontram demasiados obstáculos no seu caminho, nascidos do sonho hegemônico dos partidos, já identificado e estudado por Norberto Bobbio e seus colaboradores.  Em conseqüência, os quadriênios se sucedem e não conseguimos voar mais alto que o curto prazo. Incluir o povo nas decisões, tomadas sob o prisma de rumos para dez ou vinte anos adiante, não atende à gana partidária de deixar claro que os Governos do Pê isso são incomparavelmente superiores aos do Pê aquilo ou aquilo outro. E assim, ficamos reduzidos a mandatos contraditórios que se anulam mutuamente. Marcamos passo.

Do modo como vejo as coisas, todos os mandatários são contidos nos  estreitos limites de seus quadriênios: “Encontrei uma situação caótica, lidei com ela, resolvi muita coisa no meu mandato, meu sucessor que se vire do mesmo modo com os problemas que tive que deixar sem solução”. Esta lógica, ouvida dez vezes, efeito secundário perverso da alternância do poder, tem uma só vacina: a gestão participativa.

Acontece que os partidos têm horror à gestão participativa independente. A rigor, aceitam aquela que deles depende para sobreviver, mas a liberdade de crítica é vista como ameaça de subversão. Aqui, pagamos o pato da rasteira que os grandes partidos aplicaram na Constituição de 88, introduzindo horrores como a obrigatoriedade dos candidatos serem previamente filiados a um partido (por quê?), a vedação das candidaturas avulsas como corolário, o nobre título de eleições diretas a um sistema que alija 83% do eleitorado da seleção dos candidatos, pois só 17% do mesmo é filiado à alguma das siglas propostas (criando dois colégios, característica das eleições indiretas), assegurando que a soberania popular pode se expressar mediante plebiscitos e referendos (o Congresso permitiu um de cada em 26 anos), o caráter intocável das normas partidárias internas, pessoas jurídicas de direito privado. Como os mandatários dependem dos seus partidos para a continuidade de suas carreiras políticas, a vontade do partido pesa mais do que a do povo. Assim, os adeptos da livre participação popular podem ir catar coquinho, se não merecerem a exceção de conhecer uma Primavera de Petrópolis ou um Tempo de Participação. Eu vivi os dois, grato por isso.

Estadista enxerga longe. Sabe que o seu mandato é de quatro anos, e que a gestão participativa é a chave para o médio e longo prazo. Estará o seu partido de acordo? Via de regra, não.




 

 

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