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  Mesmo reflorestado, antigo lixão ameaça desmoronar sobre comunidade e rodovia em Petrópolis

Data: 14/04/2010

Mesmo reflorestado, antigo lixão ameaça desmoronar sobre comunidade e rodovia em Petrópolis

Publicada em 13/04/2010 às 23h18m

Ediane Merola
 

RIO - Quem passa pela BR 040 (Rio-Juiz de Fora), na altura do bairro Duarte da Silveira, em Petrópolis, não imagina que, por trás do mato verde da encosta, existe um lixão desativado que, segundo especialistas, corre risco de desmoronar. Em caso de deslizamento, o entulho não atingiria somente a estrada. Dezenas de casas da região, erguidas junto ao aterro, também seriam soterradas. Devido ao temporal ocorrido na semana passada, parte do barranco, que fica ao lado de uma quadra de futebol muito usada por crianças, já veio abaixo. Em 2000, por exemplo, uma casa da comunidade foi atingida pelo lixo e desabou. Na época, também houve queda de barreira na rodovia.

Duarte da Silveira é um bairro do distrito de Bingen e fica numa área da Reserva Biológica do Tinguá. Durante muitos anos, cerca de 360 toneladas diárias de detritos de Petrópolis foram despejadas nesse lixão, desativado há dez anos. A tragédia ocorrida no Morro do Bumba, em Niterói, na semana passada, serviu de alerta para a bióloga Yara Valverde. Ex-presidente da Área de Proteção Ambiental (APA) de Petrópolis, ela foi até a comunidade no fim de semana e diz que nada foi feito para mudar a realidade do local.

- Está tudo muito errado, é uma área da União, de reserva ambiental. Além disso, construíram uma fábrica de reciclagem de pneus e um depósito de veículos velhos em cima do lixão. Quando estava na APA, houve uma ação civil pública, no Mistério Público Federal, para verificar por que não havia monitoramento do lixão, por que autorizaram essas construções, para saber se faziam o controle de vetores. Mas pelo jeito, nada foi feito - disse Yara, que também presidiu o Instituto Estadual de Florestas (IEF).

A fábrica de pneus, segundo o gerente comercial da empresa, Nilton Duriez, está interditada há um ano e dois meses. No local só funciona a parte administrativa da companhia. Ele alega que, quando esteve em operação, a fábrica realizou serviços de drenagem e filtragem do terreno, para escoamento do chorume. Segundo moradores da região, o deslizamento em Niterói alertou a população para os riscos que correm no local:

- Se o lixo descer vai cair sobre muitas casas - disse a dona de casa Fabiana de Oliveira, que mora há oito anos em Duarte da Silveira.

" Se o lixo descer vai cair sobre muitas casas "

O lixão contorna boa parte da Rua Luiz Winter, onde, segundo o morador Elisangelo Francisco, há cerca de 300 casas. Pelo menos 30 ficam na beira da encosta:

- Quando as pessoas furavam o chão para fazer a fundação das casas, encontrava lixo a um metro e meio de profundidade. Saía gás do solo e, se botasse fogo, ficava aquela chama azul - disse Elisangelo, de 28 anos, nascido e criado no bairro.

Em nota, a prefeitura de Petrópolis argumenta que, "desde a desativação do aterro, toda a área passou por recomposição ambiental, atendendo a uma determinação do Ministério Público Federal e por estar inserida na Reserva do Tinguá. Segundo técnicos do Ibama e da Secre$municipal de Meio Ambiente, com esta recomposição não existe riscos de explosões ou deslizamentos. O crescimento da comunidade foi contido no ano passado pela secretaria, que passou a impedir novas construções".

Ainda segundo a nota, por se tratar de área ambiental, município e governo federal devem promover a remoção destas famílias para uma nova área do município, o que deverá acontecer assim que a união enviar sua contrapartida das verbas.

Yara diz que esse trabalho precisa ser acompanhado de perto, pois ela teve a impressão de que nada mudou na região, desde a última vez que esteve lá, há alguns anos.

- Fizeram uma contenção com pedras na encosta, na parte virada para a BR 040. Por que não fizeram isso em todo o barranco? - pergunta a bióloga.

A situação em Duarte da Silveira preocupa o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, que administra as reservas biológicas do país. Analista ambiental do órgão, Rogério Rocco diz que a encosta pode até nunca cair, mas aponta os riscos da região:

- A área tem grande potencial de poluição, por que esse lixão nunca foi cuidado, não era aterro controlado. Não enxergar o lixo não significa que ele não oferece risco. A chuva que infiltra no solo contamina, por exemplo, o lençol freático da região - disse Rocco.

A comunidade de Duarte da Silveira é anterior à criação da Reserva Biológica do Tinguá, que foi estabelecida em 1989. A ocupação teria sido iniciada em 1940 e intensificada durante a construção da BR-040, que teria levado para Petrópolis trabalhadores de diversas regiões do país. Moradores de Petrópolis afetados pelas enchentes de 1988 também foram reassentados no local.

Em 2001, durante um temporal, mais de 12 pessoas morreram num deslizamento próximo, mas fora da área do lixão, segundo Yara. O ponto afetado tinha cobertura florestal:

- Entre os mortos havia nove crianças. Isso é uma prova de que, mesmo em área de floresta, há riscos. Se há lixo, a situação só agrava.

 

 

Fonte: O Globo




 

 

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