Petrópolis, 29 de Março de 2024.
Matérias >> BR-040: obras da NSS
   
  Rio-Petrópolis, a rota do perigo: assaltos na Washington Luiz já viraram rotina

Data: 24/05/2014
 

Rio-Petrópolis, a rota do perigo: assaltos na Washington Luiz já viraram rotina

 

 

Diário de Petrópolis, sábado, 24/05/2014

 

Anna Paula Di Cicco

 

Muito se fala sobre a violência subindo a Serra, devido ao aumento das comunidades pacificadas no Rio de Janeiro, fazendo com que os criminosos migrem para municípios próximos, mas a verdade é que no meio do caminho é que estão as grandes ameaças às famílias petropolitanas, bem como de turistas. A Rio-Petrópolis, composta pelas rodovias Washington Luiz e BR-040, estão ficando cada vez pior no quesito segurança. O aumento da criminalidade no local já vinha chocando os residentes e, agora, assustam também os visitantes da Cidade Imperial.

 

Somente durante o feriado prolongado da Semana Santa, que emendou com Tiradentes e dia de São Jorge – totalizando seis dias de recesso – foram registradas 17 ocorrências na região que abrange o trajeto, sendo cinco delas em um único dia, todas por assalto, fora tantos outros casos que não chegaram a ser reclamados na delegacia, por isso não entram nas estatísticas oficiais. Na madrugada da última quinta-feira, mais uma família de Petrópolis foi assaltada. O carro com cinco pessoas, dentre elas idosos e uma criança de nove anos, foi abordado por bandidos que estavam em uma Blazer, alguns armados, que levaram todos os pertences das vítimas, inclusive o carro, um Chevrolet Cobalt. Diante desse aumento expressivo na periculosidade do local, autoridades se reunirão na próxima segunda-feira, dia 26, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para discutir a situação e, segundo o presidente da Câmara Municipal, o Vereador Paulo Igor (PMDB), preparar um documento a ser enviado para o Ministério da Justiça, a fim de estabilizar a segurança no trecho.

 

- Na verdade a Câmara vem discutindo o tema há cerca de um mês. No entanto, na próxima segunda-feira estarão presentes na reunião todas as autoridades do município, deputados, representantes da segurança pública, entre outros representantes. Na ocasião iremos preparar um documento que será assinado por todos os 15 vereadores, deputados e outras autoridades e representantes, para podermos encaminhar ao Ministério da Justiça e à Polícia Rodoviária Federal (PRF), diz Paulo Igor.

 

Ele ainda lembra que a segurança no trecho é uma preocupação não só dos moradores, das pessoas que sobem e descem a Serra diariamente a trabalho e estudo, como também de turistas.

 

- Isso acaba prejudicando a autonomia da cidade, do turismo, pois o acesso à Petrópolis passa a ser visto como algo perigoso. É por isso que a Câmara toda está mobilizada com essa questão. Apesar do trecho mais perigoso não fazer parte de nossa alçada, afeta diretamente o município. Não podemos fazer nenhum tipo de planejamento, mas podemos questionar sobre monitoramento e policiamento nas rodovias, ressalta o presidente da Câmara.

 

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Petrópolis, Antônio Carlos Machado, afirmou ter tomado a iniciativa de reunir as autoridades responsáveis depois da onda de assaltos que vêm ocorrendo na BR-040.

 

- Essa situação é extremamente prejudicial para Petrópolis em vários aspectos e uma das funções da OAB é defender os interesses da coletividade. Por isso, convocamos todos para debaterem o tema, para que possamos chegar a um entendimento. Temos que garantir a segurança e o direito de ir e vir da população, para não deixar a violência tomar conta da principal ligação da cidade com a capital do Estado, disse o presidente da OAB.

 

Deputados reivindicam junto ao Ministério da Justiça

 

Preocupado com os constantes assaltos na BR-040, o deputado Estadual Bernardo Rossi (PMDB) enviará, também na próxima segunda-feira, um ofício ao ministro da Justiça José Eduardo Cardoso, solicitando mais policiamento por parte da PRF na estrada.

 

- Não só eu, mas também petropolitanos e turistas que passam por essa estrada, se preocupam com a segurança. Não podemos mais conviver com tal situação, disse o parlamentar.

 

Rossi ainda disse que pretende se reunir com a bancada federal do Rio de Janeiro para solicitar ajuda sobre esta questão.

 

- Vou convidar todos os deputados federais do Rio para uma conversa. Tenho certeza que assim como eu, todos estão empenhados em ajudar nessa tarefa, principalmente com o início da Copa do Mundo, pois Petrópolis receberá muitos turistas, argumentou o deputado.

 

Bernardo Rossi contou também que acredita no aumento do efetivo da PRF na BR-040, já que em outras ocasiões teve seus pedidos atendidos. Ele lembra que em outra época solicitou um trailer para ser instalado em um trecho da BR-040. Logo depois foi instalado um posto fixo. “Acredito que o ministro nos atenderá novamente”, disse.

 

Ele finalizou sua conversa com o Diário ressaltando que o valor do pedágio da BR-040 cobrado pela Concer, concessionária que administra a rodovia, muito alto e, por isso, deveria ter muita atenção com seus usuários.

 

- A Concer também não se exime de segurança. Todos temos que nos unir e cobrar a quem é de direito para termos uma viagem tranquila por esta estrada, declarou Bernardo.

 

Já o deputado Federal Luiz Eduardo, o Dudu, em contato com o Diário, afirmou ter conversado com o ministro José Eduardo Cardoso, solicitando um melhor monitoramento das rodovias e aumento do efetivo para o patrulhamento no trajeto que tem sofrido com os assaltos.

 

- Conversei com o ministro e fiz o pedido, pois a Serra é muito utilizada e não podemos ficar desprovidos. Sabemos que existe o problema do efetivo baixo, com poucos policiais, mas se não tomarmos uma providência nada vai ser feito. É preciso que sejam instaladas mais câmeras e que tenha mais policiamento para combater a criminalidade. Fizemos a reivindicação e ele concordou, se comprometeu em dar essa atenção às rodovias, e eu tenho certeza que ele vai nos atender, finaliza Dudu.

 

 

Para as vítimas, fica o trauma

 

Roberta Müller

 

Para as vítimas, fica o trauma de um assalto, das ameaças, do terror psicológico, e ainda ter que enfrentar toda a “burocracia” após o crime, sem falar no medo de voltar a trafegar na rodovia. Só neste mês, pelo menos dois casos envolvendo petropolitanos foram registrados na volta para a cidade. Além da família que teve o carro e os pertences roubados na madrugada desta quinta-feira, cujo caso foi publicado com exclusividade pelo Diário na edição desta sexta-feira, outros moradores que seguiam pelo mesmo trecho também foram assaltados recentemente. Uma das vítimas conversou ontem com nossa reportagem e contou o que aconteceu.

 

O funcionário público, que preferiu não se identificar, disse que no último dia 3 seguia pela Washington Luis, dois quilômetros antes de chegar no pedágio, na altura de Santa Cruz, quando foi abordado por cerca de oito criminosos armados.

 

- Eu seguia normalmente, pela pista da esquerda, e tinham dois carros na minha frente, um em cada pista. Acelerei um pouco e pisquei o farol, só que quando eu me aproximei os dois veículos puxaram o freio de mão e foram derrapando. Eu achei que fosse um acidente e freei também. Quando os carros pararam eu fiquei até aliviado, achando que tinha me livrado da batida, só que saíram todos os homens fortemente armados e entendi que se tratava de um assalto – explicou ele, que estava com outras três pessoas no carro, um Veloster.

 

Quatro dos criminosos estariam com armas pesadas e outros quatro com pistolas. Eles recolheram todos os objetos pessoais das vítimas, como relógios, celulares, carteiras – sempre com ameaças de morte – e depois dois deles fugiram no Veloster.

 

Sem ter como telefonar, o morador de Petrópolis conta que seguiu a pé até o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mais próximo, mas encontrou a unidade fechada. Ele conta que ficou duas horas e meia esperando até que um policial aparecesse no local. Depois disso, seguiu para a 60ª Delegacia (Campos Elíseos), mas não conseguiu registrar a queixa porque um dos agentes alegou que não se tratava da área de abrangência da unidade. Ele, então, só conseguiu fazer o registro em Petrópolis.

 

- A gente fica naquela situação de impotência, de não poder fazer nada. Depois de todo terror psicológico, ainda começa uma “via crucis”, porque eles levaram toda a minha “vida”, tive que fazer segunda via de todos os documentos, bloquear cartões, entrar em contato o seguro, e isso tudo demora – explicou, lembrando que perdeu a vontade de ir para o Rio de Janeiro e de ter outro carro do mesmo modelo do que foi roubado.

 

Questionada sobre a demora no atendimento, a PRF informou que, normalmente, os postos ficam abertos 24 horas, mas, por falta de efetivo, o posto do pedágio não está tendo expediente para que os agentes possam dar prioridade às rondas na rodovia e combatam a criminalidade.

 

De acordo com a Concer, são 100 câmeras que fazem o monitoramento por imagens, instaladas desde a Baixada Fluminense, passando pela Serra, Itaipava e indo até a divisa com Juiz de Fora/MG. Todos em pleno funcionamento. Já a PRF confirma seu baixo efetivo, ressaltando que na região onde tem ocorrido os assaltos, o policiamento é feito por três patrulhas com dois policiais cada, um policial de plantão na base, além da chefia que também fica na delegacia.

 

Comércio sofre as consequências

 

Com o trajeto para Petrópolis sendo noticiado de forma preocupante, muitos turistas têm evitado o trecho, prejudicando assim o comércio local. Diversos pontos já vêm distanciando os visitantes da Cidade Imperial, tais como abertura de polos de moda na Baixada, o alto valor do pedágio, excesso de acidentes de trânsito na Serra e até mesmo a greve do Museu Imperial. Agora, o aumento de assaltos na Rio-Petrópolis vem somar para a lista de contras, deixando os prós em situação duvidosa. E, na dúvida, o turista não vem e o comércio não anda.

 

 

Em diversas declarações ao Diário, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Petrópolis (Sicomércio), Marcelo Fiorini, sempre se referiu às péssimas condições da rodovia que atrapalham a vinda de turistas à cidade, prejudicando o comércio local, principalmente os polos de moda do Bingen e da Rua Teresa. No entanto, os assaltos só agravam mais essa situação.




 

 

DADOS MUNICIPAIS EQUIPEWEB DADOS MUNICIPAIS DADOS MUNICIPAIS