Petrópolis, 18 de Abril de 2024.
Matérias >> BR-040: obras da NSS
   
  ATENÇÃO AMBIENTALISTAS - Desmatamento da Concer prejudica fauna

Data: 19/09/2013

 Além da possibilidade de prejuízos aos recursos hídricos – devido à existência de um aquífero (reservatório subterrâneo de água) na área onde será aberto o túnel de quase 5 quilômetros – e da problemática social – dezenas de famílias terão que deixar suas casas no bairro Duarte da Silveira –, a obra realizada pela Concer para a construção da nova pista de subida da serra causa impacto negativo também na fauna. Nesta semana, um bicho-preguiça e um coelho selvagem foram encontrados às margens da BR-040, próximos à entrada da cidade, no Quitandinha. O roedor, resgatado ontem, está machucado e terá que amputar a pata esquerda, o que o impedirá de retornar ao seu habitat natural. Já a preguiça-de-três-dedos foi achada na segunda-feira, sem ferimentos, e solta numa Área de Proteção Ambiental (APA).

Segundo especialistas, o desmatamento deve gerar desequilíbrio ambiental e as consequências devem ser sentidas em médio e longo prazo. Segundo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) encomendado pela Concer, concessionária que administra a rodovia BR 040, a região possui 38 espécies de anfíbios, 177 de aves, 13 de mamíferos e 1.059 tipos de árvores. Iniciada em maio, a obra da nova pista de subida – que terá 20 quilômetros de extensão – tem ligação direta com os constantes casos de animais encontrados às margens da rodovia. Para o veterinário especialista em animais silvestres Felipe Facklam, que atendeu o coelho selvagem, o número de animais silvestres que devem aparecer machucados e perdidos em áreas urbanas tende a aumentar, devido ao afastamento proposital das espécies das regiões onde já acontecem intervenções.

O tapiti ou coelho-do-mato foi, provavelmente, vítima de atropelamento. Ele está com a pata esquerda quebrada, necrosada (em estado de decomposição) e com uma bicheira. A amputação será feita após a melhora do quadro, já que o animal também está anêmico e com fortes dores. “O coelho selvagem jamais iria para beira da pista se não tivesse sido afugentado. Ele tem medo do movimento dos carros e das luzes. Ele deve ter sido atropelado, e como ficará mutilado terá que ser encaminhado para um criadouro ou abrigo registrado pelo Ibama”, explicou o especialista.

Somente na Rua Luiz Winter, no Bingen, onde será a nova entrada de Petrópolis, uma clareira de aproximadamente um quilômetro já foi aberta, reduzindo e fragmentando o espaço onde os animais vivem. “A fragmentação, que transforma o habitat natural dos animais em um tabuleiro de damas, pode gerar a morte de muitas espécies. Isso porque alguns não atravessam no meio da clareira e acabam morrendo de fome, devido à escassez de alimento, por exemplo”, lamentou Felipe, acrescentando que a derrubada de árvores deixa animais como os bichos-preguiça desnorteados, obrigando-os a fugir.

A espécie que atende pelo nome científico de Bradypus variegatus dificilmente sobrevive em cativeiro, já que possui hábitos e necessidades bastante particulares. “Elas têm medo da proximidade com o chão e só descem das árvores uma vez por semana. Fazem tudo na copa das árvores, inclusive a reprodução”, disse o veterinário. Ele acrescenta que “entre as funções da preguiça na natureza está a de colaborar com o reflorestamento, já que, através das fezes, ela dispersa as sementes que ingere. Com a perda do habitat natural, em longo prazo é possível que o número de árvores diminua”, afirmou o especialista.

 




 

 

DADOS MUNICIPAIS EQUIPEWEB DADOS MUNICIPAIS DADOS MUNICIPAIS