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  OS “MARQUETEIROS”

Data: 06/04/2015

 

 

OS “MARQUETEIROS”

 

Philippe Guédon

 

Vivi o renascer dos partidos em torno de valores e conceitos fundamentais – doutrina – e de propostas para dali a dez, vinte ou trinta anos – programas - referenciais para a caminhada em determinado município, estado, nação. As pessoas se filiavam à sigla de sua afeição como haviam adotado uma fé religiosa. Atos próximos um do outro, aliás.

Os partidos se viam como ferramentas da vontade popular e divulgavam o seu pensamento por meio de ações participativas, em proselitismo sadio. Eram pessoas jurídicas públicas, submetidas ao acompanhamento direto e constante da Justiça Eleitoral; os mais velhos recordarão das Convenções realizadas na presença de um Representante da mesma, verificando o respeito à Lei e ao estatuto da agremiação. Não entendo bem o crescimento físico do TSE em contraste com a redução de seu papel na vida partidária. Quem viu, viu; quem não viu, “pois não pode mais ver para crer”...

Falo da década de 80, antes da Assembléia Constituinte. Tenho lembranças e saudades da Primavera de Petrópolis, inclusive pelo gosto que tinha ao ver PT, PMDB, PDC, PSDB, PDT, PCdoB, PSB, PCB e outros sentados em todos os auditórios onde se debatiam políticas públicas, participando fraternalmente no seio da população. Da qual fazem parte.

As coisas mudaram: a Constituição que se quis Cidadã e logrou-o em parte, foi também vítima da esperteza das bancadas partidárias. Pois foram elas que esvaziaram a solene declaração do parágrafo único do artigo 1º, e criaram para si mesmas o odioso monopólio de seleção dos candidatos a cargos públicos eletivos. O que é crime na vida econômica e nos concursos de acesso ao serviço público, passou a ser definido como condição sine qua non em matéria eleitoral... As “diretas, já!” viraram indiretas e o Brasil passou a formar entre os míseros 7% das democracias que não adotam mecanismos de viabilização de candidatos avulsos ou sem partido.

E não parou por aí. Os grandes partidos abriram mão de sua doutrina e de sua ideologia para entregarem as suas campanhas a “marqueteiros” contratados. Que tristeza, ver os militantes apaixonados por duas causas saírem de cena para a chegada dos profissionais apaixonados por vitórias e rios de dinheiro. Diga-me quem é o seu marqueteiro e dir-te-ei quem és... Penso que o Brasil ainda não avaliou o mal que lhe fez e faz este monumental equívoco, onde se desconstrói, se diz o que garante voto e se cala o que os afasta, quer verdade ou mentira, Geram-se bolhas de sabão completamente divorciadas do mundo real. Importa ganhar, e cada vitória abre as portas ao marqueteiro para mais algumas campanhas que pavimentarão a estrada da sua fortuna. E chamam a esse troço de política?  

Em defesa dos “nanicos”, pergunto quem contrata “marqueteiros” a custo estratosférico, se as micro ou as grandes legendas. Penso que cabe reflexão sobre estas campanhas que viraram fogos de artifício, onde a festa de luzes nos convence que o próximo ano vai ser melhor do que esse que passou, e sobre a troca besta de militantes e propostas por cabos eleitorais pagos e slogans de forte apelo; Haja vaca tossindo de todos os lados!




 

 

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