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  A boataria eleitoral assusta partidos e eleitores

Data: 04/06/2014

 

 

A boataria eleitoral assusta partidos e eleitores

Observatório da Imprensa, quarta-feira, 04/06/2014, nº 801

 

Por Carlos Castilho em 31/05/2014

 

A boataria passou a fazer parte do nosso quotidiano e teremos que conviver com ela e suas consequências. Há pouco tivemos o caso do linchamento e morte de uma dona de casa em Guarujá (SP). Depois tivemos o caso do boato que acabou se tornando um dos responsáveis pela paralisação ilegal de um grupo de motoristas e cobradores de ônibus da capital paulista. E no dia 25 de maio a imprensa revelou que o PT, PSDB e PSB estavam preparando estratégias para conter a proliferação de boatos em redes sociais na internet, na campanha para as eleições presidenciais de outubro.

 

É o preço que estamos tendo que pagar pela conquista do poder de publicar opiniões na internet sem passar pelo crivo da imprensa. Há muita gente que lamenta este fato, mas é impossível voltar atrás. Seria o mesmo que tentar “desinventar” a televisão, o motor a combustão interna ou a roda. O jeito é aprender a conviver com a inevitabilidade de informações inverídicas ou distorcidas por meio de uma permanente leitura crítica do noticiário diário.

 

Embora ofuscada pela maciça propaganda em torno da Copa do Mundo, a campanha eleitoral para a sucessão presidencial de outubro surge como a grande arena para a boataria online. Os três partidos envolvidos diretamente na disputa presidencial criaram grupos especializados para lidar com os boatos, mas pelas informações divulgadas até agora todos eles pretendem travar a guerra na justiça em vez de fazê-lo no ambiente digital. 

 

Tudo indica que a estratégia dos principais aspirantes ao Palácio do Planalto será recorrer à legislação eleitoral, o que pode ser uma proposta arriscada, pouco eficiente e que em vez de acabar com os boatos poderá avivá-los mais ainda. Um boato não se proíbe, mas, sim, se neutraliza com informação veraz e confiável. Além disso, é muito complicado identificar o autor de uma informação falsa circulando na rede, já que ela é repassada centenas e até milhares de vezes entre usuários da internet.

 

É aí que parece estar a principal debilidade da estratégia dos políticos na previsível guerra de informações. Em campanhas anteriores, a grande preocupação era fazer propaganda do candidato, mas na era da internet o que vale é o tipo de dados e informações que os partidos fornecerão aos eleitores indecisos. A estratégia dos partidos era tentar convencer o eleitor, em vez de ajudá-lo a tomar uma decisão. Uma atitude impositiva em vez de uma postura colaborativa.

 

A conjuntura mudou porque aumentou o volume de informações disponíveis na internet, contribuindo para que o eleitor passasse a ter mais versões para um mesmo fato – o que aumentou o seu ceticismo e desconfiança em relação às promessas eleitorais. Com isso, tornou-se necessária uma nova estratégia para reconquistar a atenção das pessoas. 

 

É previsível a ocorrência de boatos grotescos que podem ser facilmente enquadrados na legislação eleitoral, mas o que provavelmente mais preocupa os partidos são os casos sofisticados, quando é difícil rotular o tipo de mensagem que está circulando na rede. O boato com aparência de verdade é o mais perigoso porque pode destruir reputações e o mais difícil de bloquear, porque se alimenta da dúvida, da curiosidade e da morbidez. 

 

A preocupação em usar a justiça para punir o adversário pode até dar certo em alguns casos, mas o que mais renderá votos é a preocupação em saber como o eleitor está reagindo aos boatos. A internet criou comportamentos políticos novos entre os eleitores diante da velocidade e amplitude da circulação tanto de informações verídicas como de rumores ou boatos. Com isso aumenta a possibilidade de mudanças súbitas e inesperadas no comportamento dos votantes. Para identificar esses movimentos é imprescindível estar atento ao tipo de preocupação do eleitor.

 

As grandes redes sociais já sabem que estarão no centro da polêmica e podem acabar como vilãs na boataria. Por isso tratam de minimizar os eventuais prejuízos a sua imagem corporativa, mas é evidente que elas não podem controlar seus usuários no caso de uma guerrilha de boatos digitais. O certo é que, à medida que avançamos na era digital, a disputa de votos em campanhas eleitorais passa a ser uma batalha informativa.

 

Os métodos tradicionais de valorizar a imagem pessoal ou o recurso ao corpo a corpo nas ruas para seduzir eleitores e conquistar simpatias perdem terreno para formas mais sutis de persuasão vinculadas ao uso da informação, um item imaterial e complexo que é fácil e barato para disseminar, mas muito difícil para avaliar, principalmente em situações emocionalmente carregadas – como uma eleição presidencial como a que nos espera no dia 5 de outubro. 




 

 

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