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  Nada impede que tenha ocorrido

Data: 23/03/2014

Nada impede que tenha ocorrido

Tribuna de Petrópolis, Domingo, 23 de Março de 2014

 

Não sei como, mas me chegaram às mãos as notas que um jovem jornalista (JJ) registrou no seu bloco quando entrevistou um sábio e experiente prefeito (SEP). Achei-as tão interessantes que as quero partilhar:

JJ: Prefeito, como se vê o senhor: como mandatário escolhido pelo seu partido, do qual o senhor depende para as futuras etapas de sua carreira, ou como mandatário do povo que apoiou o seu nome nas urnas?

SEP: Vivemos em democracia representativa e sou mandatário do povo como manda a Constituição, sem margem para interpretações. Sou leal ao meu partido, mas ambos somos apenas ferramentas do povo. Que liderança seria eu, se colocasse as minhas ambições pessoais à frente do interesse maior da população? Que partido seria o meu, se quisesse usurpar a  soberania popular?

JJ: Prefeito, qual é o ponto chave para uma administração pública de qualidade?

SEP: Como numa empresa ou numa família, ou planejamos ou vamos multiplicar bobagens. Se você levar em conta que uma política pública demanda 10 ou 20 anos para ser implementada, o meu mandato de 4 anos só cobre parte.  Conclusão: planejar é preciso, e com a participação do povo. Quando eu acabar o meu mandato, será este mesmo povo que defenderá a continuidade dos programas cujas metas ele ajudou a definir.  Não parece lógico?

JJ: Com certeza! Qual a área mais importante da prefeitura?

SEP: Depende do ponto de vista de cada um, a cada momento. Se o seu problema é doença, pois é a Saúde; se é creche ou escola para os filhos, você escolherá a Educação. E se não tiver casa para morar, responderá Habitação. Vamos olhar de outro modo? Temos “secretarias-meio” (que asseguram condições de trabalho às demais) e “secretarias-fim” (que zelam por parcelas dos serviços públicos que o povo tem o direito de esperar, em contrapartida dos pesados tributos que paga). Repare que o Plano Diretor não fala sobre as “secretarias-meio” (Fazenda, Procuradoria, Gabinete, Administração, Pessoal, Controle Interno e Planejamento), nem nos seus custos. Ora, como é esta área da prefeitura que viabiliza toda a máquina, eu vou destacá-la para que nunca mais a deixemos na sombra.

JJ: O senhor já conseguiu colocar a “Casa” em ordem, a partir dessa clareza?

SEP: Não, mas... Mas já tenho pronto o roteiro a ser seguido. Um: tenho que desenhar um anteprojeto de estrutura administrativa onde só permaneçam os órgãos que não podem ser cortados ou reunidos debaixo de um só chapéu. Ou a máquina é leve, ou engole todos os recursos. E as áreas-fim ficam à míngua de verbas. Simples assim. Dois: vou levar o trabalho à consideração do povo, ou seja dos diversos segmentos: servidores, contribuintes, moradores, professores, administradores. Três: levo em conta as propostas ouvidas e revejo o texto. Quatro: Nova leitura com o povo antes do envio para a Câmara.

JJ: Depois da estrutura aprovada, qual é o passo a seguir?

SEP: Em função da estrutura aprovada, definir os efetivos necessários e suficientes. Temos algo como 3,8% da população recebendo todos os meses dos cofres públicos; mesmo considerando os aposentados e pensionistas (delicado problema), precisamos baixar este percentual para 3% (uma parte da redução vai sair dos cargos de confiança excessivos). Não existe mágica: se queremos investir, temos que ter sobras orçamentárias. Para tanto, ou cortamos despesas, ou aumentamos os tributos. A escolha tem que ser do povo; eu não sou o dono do município.

JJ: Mas não acha que pode ser difícil convencer as pessoas, os servidores?

SEP: Nem é o meu papel. Para bem representar o povo que me elegeu, é minha responsabilidade apresentar um projeto razoável de redução de despesas mediante corte de despesas supérfluas. Este tema vai muito além de meu mandato, portanto a decisão precisa ser tomada pelo povo.

JJ – Obrigado pela aula, Prefeito. Obrigado pelo furo e vou correndo para a redação.

SEP: Só estou cumprindo a Constituição. Está na hora do bom senso, das coisas essenciais ditas de modo simples, das decisões coletivas, do grande diálogo municipal. Eu estou decidido a fazer a minha parte, e sei que o povo fará a dele. Vá que queira pagar mais tributos (risos)? Tchau, filho, volte quando quiser.

 

 Philippe Guédon 




 

 

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