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  Políticos sob rédeas curtas - Gastão Reis

Data: 12/10/2019

 

Políticos sob rédeas curtas

Gastão Reis - Empresário e Economista

 

Nos últimos dias, participei de vários encontros e reuniões, e aproveitei para fazer um teste com amigos e conhecidos. A ideia era saber a reação deles à proposta de um “pequeno” aumento de R$1,2 bilhão, aprovado pelo Congresso, para engordar o Fundo Partidário com vistas às eleições do ano que vem. Queria saber o que eles fariam se dispusessem de um instrumento que países bem resolvidos politicamente têm à sua disposição: o voto distrital puro.

Em países abençoados por esse dispositivo legal, o parlamentar (vereadores, deputados estaduais e federais), todo mês, tem que comparecer ao seu distrito eleitoral para prestar contas do que está fazendo no parlamento em relação aos anseios e propostas aprovadas por seus representados.

Sendo assim, o deputado federal teria que comparecer todo mês ao seu distrito eleitoral para expor as propostas em que vem trabalhando no Parlamento bem como suas atividades como fiscal dos atos do poder executivo. E aí, eu partia, como economista, para um “vamos supor” que um deputado federal chegasse em seu distrito eleitoral e fizesse a defesa desse “aumentinho” de R$ 1,2 bi diante de seus eleitores. Nessa hora, sem manifestar minha posição, eu perguntava qual seria a reação desse amigo ou conhecido a essa situação diante de quem deveria não só representá-lo como também zelar pelo bom uso do dinheiro público.

A reação unânime foi um indignado NÃO(!) a tamanho desperdício. Ainda me lembro do comentário de um conhecido me dizendo que o depufede (abreviatura de deputado federal usada pelo jornalista Stanislaw Ponte Preta, celebrizado pelo seu Festival de Besteiras que Assola o País (Febeapá) na segunda metade da década de 1960) seria comido vivo por seus eleitores e sairia da reunião com o rabo entre as pernas, desautorizado em votar a favor de tamanho descaso e desvio de dinheiro público.

E aí eu voltava à nossa dura realidade com a seguinte explicação e depois com uma imagem. Nosso sistema eleitoral é o proporcional, considerado o pior que pode existir por cientistas políticos. Além de multiplicar o custo de uma campanha eleitoral por cinco, ele ainda incorpora um defeito congênito ao não induzir o parlamentar a estar em contato mensal com seus representados.

A imagem do rabo entre as pernas não se encaixa bem às atuais circunstâncias de nossa vidinha política. A rigor, o parlamentar abana o rabo para o eleitor, não para saudá-lo, mas para dizer não à preocupação legítima do representado com a saúde e a educação como prioridades. O dramático é que o eleitor acaba financiando campanhas políticas de candidatos e partidos com os quais ele tem zero de afinidade ideológica.

Cabe a nós, como eleitores, dar o troco nas eleições de 2020 e 2022, ampliando a renovação de 20% que houve nas eleições de 2018 na Câmara Federal para mais de 50% e lutar pela implantação do voto distrital puro. Na atual conjuntura e estrutura, não se trata de ter as rédeas frouxas, mas ter plena consciência de que elas simplesmente não existem. A sabedoria política inglesa obriga o primeiroministro a prestar contas de seus atos toda semana ao Parlamento e à rainha. Que tal nos lembrarmos que aqui já foi assim e lutar para voltar a ser o que era?

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