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  O ódio na política está tornando mais difícil a convivência social

Data: 15/01/2017

 

Por Acílio Lara Resende

Houve tempo, aqui, em nosso país, que os adversários políticos não passavam de simples adversários. Não raras vezes, eram amigos, vizinhos ou colegas de universidade. Alguns, famosos, eram até compadres. Disputavam o mesmo colégio eleitoral, derramavam-se em discursos sectários, faziam oposição ferrenha, mas deixavam a porta aberta ao bom diálogo. É claro que havia exceções. Em alguns municípios, sobretudo nos cafundós de Minas, onde mandava o velho coronel, havia disputa acirrada. Acontecia violência verbal e, às vezes, física, mas isso era exceção. Os casos são conhecidos de nossa literatura política.

A ditadura civil-militar tornou a convivência entre as pessoas mais difícil. Contraditoriamente, porém, foi da democratização para cá que as relações pioraram. Desculpem-me meus amigos petistas, mas parte do PT, sobretudo nos últimos 13 anos e no pico de poder, contribuiu para essa deterioração. A frase “nós contra eles” foi muito usada por seus mais importantes dirigentes. O ex-presidente Lula, em inúmeros momentos, teve a insensatez de pronunciá-la. Isso só poderia provocar a intolerância, além de despertar o ressentimento e o ódio – os dois ingredientes que alimentam os radicais da esquerda e da direita.

Hoje, porém, a coisa anda mais braba ainda. O bate-papo descontraído sobre política, tão comum em passado recente, até mesmo entre os profissionais de imprensa, está com os dias contados. A análise política, então, em qualquer meio de comunicação social, além de suas naturais dificuldades, se tornou um risco. As críticas estão dando lugar às agressões. Ninguém escuta. Cada um sabe mais do que o outro ou se acha mais esperto do que outro. O bate-papo descontraído, ou a simples troca de ideias, se não contar com ajuda de mediador, corre o risco de terminar em ofensas mútuas, quando não aos sopapos. Nem em família se fica livre dessa violência. Briga-se por dá cá aquela palha.

Contribuiu, também, para a degeneração das relações entre políticos a difusão das novas mídias digitais proporcionadas pela internet. São ferramentas que servem ao bem, mas também podem servir ao mal. Mas a falta de educação, origem do respeito, que grassa entre todas as classes, sem distinção (os professores são suas maiores vítimas), talvez seja a principal causadora desse ambiente desagradável. Essa falta de urbanidade se tornou ainda mais evidente, pois qualquer cidadão se acha no direito de expor, por meio de seu celular, e sem se preocupar com o uso inadequado das palavras, o que realmente pensa acerca de qualquer assunto. A privacidade acabou. Foi para as cucuias.

A violência extrapolou, e, com a eleição recente de Donald Trump (uma experiência que o mundo logo conhecerá), surgiram os que, como se não bastassem nossos problemas internos, resolveram adotar posições radicais tanto de um quanto de outro lado (rs, rs, rs).

Na Câmara Federal, na disputa por sua presidência, a arma é a tesoura. A briga não é em defesa da instituição, nem do povo, mas do próprio ego. Ninguém se lembra da Lava Jato, das últimas chacinas ou de nossas masmorras, mas tão somente do que poderá obter amanhã em proveito próprio.

O Brasil é um país violento. Armados até os dentes, estão em campo “coxinhas” e “petralhas”. A cordialidade do homem brasileiro, na verdade, nunca existiu, nem mesmo para Sérgio Buarque de Holanda. Seu “homem cordial”, que confunde o público com o privado e tira proveito de tudo, nada tem de polido ou bondoso.

O Tempo




 

 

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