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  Pior do que parecia – Editorial / O Estado de S. Paulo

Data: 15/10/2016

 

Pior do que parecia – Editorial / O Estado de S. Paulo

 
Com 16,4 milhões de desempregados ou subocupados no segundo trimestre, o quadro do mercado de trabalho é bem pior que aquele mostrado, até agora, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua). Mais completo, o novo cenário apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) permite uma noção mais precisa dos danos causados pela recessão aos trabalhadores e às suas famílias. Divulgado pela primeira vez na quinta-feira passada, esse levantamento mais amplo enumera, além das pessoas incapazes de encontrar emprego, aquelas com menos de 40 horas semanais de trabalho e também as integrantes de um grupo classificado como força de trabalho potencial.
 
Com a retração econômica, o desemprego aumentou rapidamente nos últimos dois anos, no Brasil. Doze milhões de pessoas procuraram trabalho, sem sucesso, no período de três meses terminado em agosto. Esse grupo correspondeu a 11,8% da força de trabalho, taxa superior às da maior parte dos países da Europa. Muitos destes ainda se recuperam da crise iniciada em 2008. No segundo trimestre, a taxa brasileira, de 11,3%, já havia superado a média da União Europeia. Os novos indicadores agora divulgados pelo IBGE se referem a esse período.
 

Aos 11,6 milhões de desempregados no período de abril a junho somam-se agora, com a nova informação, 4,8 milhões de subocupados por insuficiência de horas de trabalho. Chega-se com isso a uma taxa combinada de 16%, correspondente a 16,4 milhões de pessoas em dificuldades. A situação dos desempregados – aqueles desprovidos de ocupação – é certamente mais grave que a dos subocupados, mas é outro o ponto importante para a avaliação do cenário de hoje e das perspectivas de curto e de médio prazos.
 
O emprego, sabe-se há muito tempo, é o último indicador a se normalizar, quando um país sai de uma recessão. No começo da recuperação, as empresas conseguem produzir mais ocupando a capacidade ociosa, isto é, as máquinas, equipamentos e instalações mantidos com baixa utilização durante a crise. Além disso, a reativação normalmente ocorre com aproveitamento mais intenso da mão de obra já empregada. Tipicamente ocorre, nessa fase, um aumento de produtividade da força de trabalho disponível nas empresas.
 
A lógica empresarial pode justificar o adiamento das contratações. Não há por que recrutar trabalhadores adicionais enquanto se pode obter, dentro dos limites legais, maior produção por unidade de mão de obra. Essa lógica, no entanto, vale apenas para a gestão de custos de cada empresa. Para a economia, a permanência de grande número de pessoas no desemprego pode representar um freio. Mesmo com a melhora das perspectivas gerais, o desempregado e sua família tendem a continuar contendo os gastos.
 
Isso significa evitar o consumo de bens ou serviços considerados supérfluos ou inessenciais. Significa também adiar o endividamento e as grandes despesas, como compras de carros e de equipamentos domésticos. Uma empresa pode, portanto, administrar seus custos com prudência, adiando contrações, e ao mesmo tempo ser forçada a enfrentar uma lenta recuperação do mercado. Isso ocorrerá simplesmente porque muitos empregadores terão decidido ao mesmo tempo limitar o recrutamento de pessoal até a atividade ganhar maior impulso.
 
Com a medida mais simples do desemprego já seria possível, hoje, apostar numa lenta recuperação do mercado interno. Afinal, 12 milhões de desocupados são um número enorme, até num país com mais de 200 milhões de habitantes.
 
Além disso, falta saber se mais pessoas serão adicionadas a esse contingente. Não há segurança quanto a isso, neste momento. Com a adição dos subocupados o cenário fica pior. Também esses, embora em melhor situação que a dos outros, vivem dificuldades e dificilmente serão estimulados a gastar muito mais a curto e a médio prazos. Os destroços mais feios deixados pelo petismo continuarão marcando o cenário ainda por um bom tempo.



 

 

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