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  A VIOLENTA FEBRE DAS URNAS CANIBAIS

Data: 23/10/2014

 

A VIOLENTA FEBRE DAS URNAS CANIBAIS

Quinta-feira, 23 de Outubro de 2014

 

Denilson Cardoso de Araujo

 

Santo, o Aécio não é, mas a Dilma fica risível tentando posar de Irmã Dulce. O PSDB não é convento mas, altar de santos, o PT nunca foi. Aliás, atire a pedra primeira o leitor que garante meter mão no fogo por todos os integrantes do PT ou do PSDB ou até... da própria família. Por isso, a guerra de lama, semeadura de ódios que preponderou no segundo turno, fez tão mal ao Brasil. Desagradável, exagerada, suja. E, repito, campanha suja é prenúncio de governo imundo.

No susto da derrota possível, foi o PT quem primeiro sacou o baixo nível do coldre. Despudoradamente, tentou fazer da íntegra Marina Silva um anjo do mal. Embora competente, Aécio tinha fama de playboy. Claro, daria jogo pesado. Se no esquadro do vômito da reeleição a qualquer custo Marina virou homofóbica cria de banqueiros, Aécio virou bêbado espancador de mulheres. Quando o TSE ditou os limites, convenientemente Dilma já alcançara subir nas pesquisas e Aécio ficou sem possibilidade de resposta devida.

Saudosos tempos em que, para certa falecida esquerda ética, eleições não eram fim em si mesmo, mas educação do eleitorado nas cartilhas da cidadania e, mais do que isso, na formação de convicção popular quanto à estreiteza das possibilidades de transformação efetiva pela via do voto. Qual a pedagogia desta Campanha de 2014? Dedo-no-olho, vitória a qualquer preço, o “ganhar perdendo”. Marina Silva disse que, a vencer deste modo, preferia “perder ganhando”: perder eleições, mas salvar a integridade; perder mandato, mas ganhar a honradez de não chafurdar no eleitoral chiqueiro, primo mais torpe dos currais eleitorais que aí estão.

Que uma candidata ou candidatos aceitem o emporcalhamento ético que lhes foi reservado por marqueteiros inescrupulosos, embora inaceitável, é compreensível. Pior é quando o eleitorado vira fã-clube talibã. Torcidas organizadas acompanham a insanidade das campanhas e se agridem, desfazem amizades, acumulam mágoas, propagando inverdade e calúnias. Culpados úteis - pois que inocentes, nesta história, não há. Com as exceções necessárias, na violenta febre das urnas canibais, viramos país de fofoqueiros maníacos. Gente ilibada saiu, ingenuamente, repercutindo insultos oficiais contra Aécio, as manipulações de debate e discursos; e gente não menos ilibada, se viu reproduzindo, contra Dilma, tanto insinuadas baixarias de lésbicas paixões, quanto a de impossíveis pontos eletrônicos em seu ouvido.

Torço para que ainda prevaleçam os fiapos éticos que resistem, apesar de esmagados no chumbo grosso da vergonhosa campanha. Que haja paz nos corações. Um país que amanhecerá tão profundamente rachado, dividido e cheio de ódios, precisa urgentemente colar os seus cacos e recolher os farelos. Crises muitas nos esperam na segunda-feira.

Democracia não é a insanidade coletiva que vimos. Acima de tudo, definitivamente, democracia não se faz pela internet. O que já sabíamos - que o anonimato da rede permite as mais vis covardias travestidas de épica coragem - se confirmou como nunca. Democracia precisa de olho no olho, reunião, presença, debate não virtual. Povo, não telespectadores. Cidadãos, não internautas. Democracia não se faz a 140 caracteres. Democracia não é campanha para xerife de cela ou dono de morro, como ficou parecendo. Democracia não é resumir as utopias da esquerda ao Bolsa-Família. Democracia é um Bolsa-Decência. Decência! Ganhe quem ganhar, é do que estamos famintos.


www.denilsoncdearaujo.blogspot.com.br

 




 

 

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