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  REDES SOCIAIS: Estupidez de massa

Data: 23/07/2014

 

 

REDES SOCIAIS

Estupidez de massa

Por Márion Strecker em 23/06/2014 na edição 804 Observatório da Imprensa

Reproduzido da Folha de S.Paulo, 23/6/2014; intertítulo do OI
 

“Atenção: não me escrevam mais pelo inbox. Quem quiser contato comigo, faça-o por e-mail, telefone, pomba voadora, mula, correio, seja lá o que for. (“¦) A partir de hoje eu caio fora desse Facebook aqui! Saiu das proporções de graça etc. Vejo que é ocupação de quem não trabalha! (“¦) Tem uns que narram (berram) (gritam) o quanto está o jogo, como se ninguém soubesse! E lá vai esse ridículo exercício de clicar “like” (ou “curtir”). (“¦) Vou manter as páginas abertas por medo de clonagem (já aconteceu três vezes antes quando tentei fechar isso), mas não lerei os comentários e não lerei os recados da inbox. Bom trabalho, seus vagabundos! Curem-se da solidão e realizem-se na vida (“¦).”

 

Com essa mensagem, o autor e diretor de teatro Gerald Thomas abandonou sua página no Facebook semana passada. Não foi a primeira vez. Alguns vão lembrar que ele também já anunciou o abandono do teatro, mas acabou voltando, como antigos namorados voltam a namorar, restando aos amigos reconstruir os vínculos depois da clássica e traumática divisão entre os “amigos dela” e “os amigos dele”. Talvez ele volte ao Facebook. Talvez não. Mas isso não muda o principal: o Facebook promove uma “estupidez de massa”, como escreveu Gerald na despedida. Concordei, mas me abstive de clicar o botão Like, já que ele não ia ver mesmo.

Sei que vou receber mensagens de contestação, elogiando o Facebook e mencionando fatos bacanas, a diversão, a proximidade com os amigos, tralalá. Eu também poderia mencionar amigos de infância que reapareceram, amigos distantes que parecem próximos, coisas engraçadas ou, com sorte, informações relevantes. Nada disso é capaz de ocultar o tsunami de bobagens, idiossincrasias e “vergonha alheia” que o Facebook patrocina.

Faz sentido?

Ninguém pode querer ver de tão perto tanta gente o tempo todo. Ou será que alguém neste Brasil tão sociável é capaz de manter baixinho o número de conexões? Eu não sou, apesar da indecente pilha de “pedidos de amizade” sem leitura nem solução. Primeiro eu tinha critérios: pessoa jurídica não aceito como amigo; só aceito quem conheço, quem publica foto ou é amigo de amigos etc. Nenhuma regra deu certo. Não me peçam coerência. Agora é ao acaso. Vi, vi. Não vi, não vi.

Enjoei de tanta gente fotografada para consumo externo, tanto VIP, tanto lugar paradisíaco, tanta lua cheia, tanta opinião a respeito de tudo, tantos animais de estimação, tantos aniversariantes, tantas crianças, tantas mensagens edificantes, tantas piadas, tanto leva-e-traz, tanto proselitismo, tanta má-criação.

Só há uma maneira de lidar com o Facebook, é a esmo. Então que ninguém fique magoadinho se deixei de ver o seu status, evento ou aniversário. Fracassei. Desisti.

Mas diferentemente do Gerald, parece que agora vou ler as mensagens que chegam no inbox, se forem poucos os que me escreverem e não vierem mensagens de grupo ou propaganda. E sabe o que fiz hoje? Instalei o Messenger do Facebook no celular. Meu jovem assistente, o André, recomendou. Seria um bom jeito de receber mensagens privadas de amigos do Facebook sem entrar no Facebook. Isso além de SMS, e-mail, celular, WhatsApp, Skype, Instagram... Será que faz algum sentido isso tudo?

***

Marion Strecker é colunista da Folha de S.Paulo




 

 

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